Os pais e as crianças na aula de música.

“Os pais e as crianças na aula de música: Vivência com pais e crianças na Escola de Música Momento Musical em Piracicaba – SP” por Ivete da Silva Cunha Machado.

 

“Não ouvimos a música só com os ouvidos, ela ressoa no corpo inteiro, no cérebro e no coração”.

Emile Jacques – Dalcroze

 

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo apresentar as aulas de Musicalização Infantil para crianças a partir de 04 meses de idade, mostrando a importância dos pais participarem das aulas com seus filhos, resgatando cantigas de roda, canções de ninar, canções infantis e enunciando os benefícios afetivos, cognitivos, a sensação de bem-estar e felicidade que essa relação traz à criança.  A pesquisa desenvolveu-se na Escola de Música Momento Musical, em Piracicaba, São Paulo, através de observação dos pais e crianças (de 4 meses a 6 anos) em aula. Um questionário foi elaborado e enviado para pais e mães que participam ou participaram das aulas, visto que ao completarem 03 anos, as crianças começam a frequentar as aulas sem a presença destes. A aula de música contribuiu para aumentar o repertório musical dos pais, utilizando a música como ferramenta no dia a dia em tarefas comuns, na hora da alimentação, do banho, trocar de roupa, brincar e dormir, reforçando o vínculo afetivo entre pais e filhos. A música propiciou às crianças desde o estímulo da fala, atenção, percepção rítmica e melódica, o prazer de ouvir música, tornando-as mais tranquilas. A educação musical com os pequeninos propicia, futuramente, grandes apreciadores musicais, afinando o gosto musical e o amor pela música.

 

Palavras-Chave: aulas de música, musicalização infantil, iniciação musical, criança, desenvolvimento, educação musical em família.

ABSTRACT

The purpose of this work is to present the Childlike Musicalization classes for children from 04 months old, showing the importance of parents participating in classes with their children, rescuing popular songs, lullabies, children’s songs and enunciating the affective benefits, the sense of well-being and happiness that this relationship brings to the child. The research was developed at the Music School Momento Musical, in Piracicaba, São Paulo, through observation of parents and children (from 4 months to 6 years old) in class. A questionnaire was prepared and sent to parents who participate or participated in the classes, since at the 03 years old, the children start attending classes without their presence. The music class contributed to increase the musical repertoire of the parents, using music as a tool in common tasks, at the time of feeding, bathing, changing clothes, playing and sleeping, reinforcing the affective bond between parents and children. Music provided the children with the stimulus of speech, attention, rhythmic and melodic perception, the pleasure of listening to music, making them calmer. The musical education with the little ones propitiates, in the future, great musical connoisseurs, tuning the musical taste and the love for the music.

 

Keywords: music classes, children’s music, musical initiation, children, development, musical education in family.

 

Introdução

A importância de dar estímulos à criança desde seu nascimento vem, cada dia mais, despertando a atenção para estudos e pesquisas. Muitas áreas estão atentas à importância do desenvolvimento da criança como, medicina, fonoaudiologia, psicologia, fisioterapia, pedagogia, educação musical, educação física, entre outras.    

Estimular o bebê facilita seu desenvolvimento físico, motor, emocional e psicológico, e a criança responderá aos estímulos por meio de sua expressividade (sorriso, balbucio, choro, movimento de pernas e braços, ou qualquer outra reação).  Esses estímulos devem ser globais, ou seja, devem trazer benefícios para a parte física, motora, emocional e psicológica da criança. (FILIPAK e ILARI, 2005)

Acreditando que a música é uma ferramenta importante para estimular a criança desde bebê e que as aulas de música proporcionam ao pequeno aluno condições de desenvolver a sensibilidade, criatividade, senso rítmico, ouvido musical, o prazer de ouvir música, a expressão corporal, imaginação, memória, atenção, concentração, autodisciplina, o respeito ao próximo, e que todos esses itens são necessários na formação de um indivíduo, torna-se fundamental desenvolver as aulas com crianças a partir de 04 meses de idade, onde os pais participando das aulas juntamente com seus filhos, acompanham o desenvolvimento, vivenciam e interagem com eles através das atividades musicais.

A música amplia no ser humano a sensibilidade, percepção, reflexão e imaginação. A vivência musical em família propicia às crianças e pais, sensação de bem-estar e felicidade, além de representar um momento de interação e afetividade único, pois durante a aula, os pais estão com a atenção voltada somente para seus filhos e as brincadeiras musicais são ricas devido à participação e socialização entre eles. Essa vivência musical estará registrada na memória da criança por toda a vida.

Outro benefício que as aulas de música trazem à família é a ampliação do repertório para os pais cantarem com seus filhos. Nas aulas são trabalhadas cantigas de roda, canções de ninar, canções infantis, brincadeiras musicais, ricas em ritmo, vocabulário, intervalos, trabalhando a linguagem musical de forma lúdica, onde as percepções auditiva, rítmica, motora, visual, são desenvolvidas a cada aula, respeitando cada fase da criança.

Para que as aulas aconteçam da forma desejada e os resultados esperados sejam alcançados, é necessário que o professor se prepare antecipadamente e esteja muito seguro para a realização das atividades. Planejamento, leituras e muito estudo, realizar as atividades a serem desenvolvidas em frente a um espelho (para pensar e visualizar a expressão) e também praticar as atividades (cantando, tocando, escolhendo qual timbre de instrumento será mais adequado para cada canção e de acordo com a idade da criança), é indispensável para quem deseja realizar um trabalho musical de qualidade.

Para cada idade existe um objetivo específico a ser desenvolvido, existe uma progressão, um avanço musical em todos os sentidos, na percepção melódica, rítmica, ouvido e memória musical, atenção, concentração, coordenação motora, expressão corporal, disciplina, imaginação, criatividade, cultivo da voz, manejo do aparelho fonador.

Os pais, em geral, ao iniciarem a aula de música com os filhos, realizam as atividades envergonhados, com uma postura de corpo um pouco rígida, inibidos ao cantar e tocar, porém pode-se observar que após algumas aulas, já orientados e estimulados em como proceder, como ser o incentivador de seus filhos, eles deixam florescer a criança que existe dentro de si e também se divertem com as aulas.

Ao analisar as crianças desde o momento em que entram nas aulas de musicalização com seus pais, até o momento em que estão aptas a escolher um instrumento específico e poder sentir o quanto a música contribuiu para o seu desenvolvimento é realmente encantador, comovente e motivador.

Tendo em vista os inúmeros benefícios e a importância das aulas de música, o objetivo deste trabalho é apresentar as aulas de Musicalização Infantil mostrando a importância dos pais participarem com seus filhos, resgatando cantigas de roda, canções de ninar, canções infantis, elaborando um repertório de qualidade musical e enunciando os benefícios afetivos, cognitivos, a sensação de bem-estar e felicidade que essa relação traz à criança.

Capítulo 1: Musicalização Infantil

Como conceito preliminar, musicalizar implica em desenvolver o senso musical das crianças, bem como sua sensibilidade, expressão, ritmo e “ouvido musical”. Significa, portanto, inseri-la no mundo da música, dos sons e do silêncio.  De acordo com Brito (2003), a musicalização como processo visa fazer com que a criança se torne um ouvinte sensível ampliando seu universo sonoro.

Segundo Nunes (2010), a criança começa a se desenvolver e receber estímulos musicais desde a barriga da mãe e a audição é o primeiro sentido a ser desenvolvido durante a gravidez. O feto começa a ouvir os primeiros ruídos a partir dos quatro meses de gestação.

Conforme Stahlschmidt (2002), a voz da mamãe, o batimento cardíaco, a respiração, são os primeiros sons que o embrião tem contato, sendo a voz, o principal som que ele ouve e memoriza. Dessa forma, podemos perceber como é importante a mamãe gestante cantar para o bebê que vem vindo.

Ao nascer, o bebê é acalentado com canções de ninar, visto que os pais têm o hábito de cantar para os bebês dormirem. E em vários momentos da rotina da criança, os pais, principalmente a mãe por estar mais tempo com a criança, cantam para ela, seja na hora do banho, na hora de amamentar ou ao distraí-la. Canções repletas de gestos e ritmos são apresentadas às crianças da maneira como os pais conhecem e sabem.

São muitos os benefícios que a música traz para a criança, contribuindo para o desenvolvimento neurológico, afetivo e motor dela. As aulas de música proporcionam condições para desenvolver a sensibilidade, senso rítmico, ouvido musical, expressão corporal, imaginação, memória, atenção, sensação de bem-estar e felicidade, sociabilidade, entre outros. (BRITO, 2003)

Considerando que a Musicalização Infantil é muito importante no desenvolvimento dos bebês, especialmente no que diz respeito ao resgate das canções infantis e, que pais e crianças educados musicalmente serão bons ouvintes e apreciadores musicais no futuro, este trabalho tem como objetivo pesquisar e refletir sobre a importância das cantigas de roda, canções de ninar, brincadeiras, canções infantis em família desde o nascimento do bebê, e como a aula de música pode contribuir para a afetividade entre pais e filhos, demonstrando a importância da participação dos pais nas aulas, juntamente com estes, através de experiências nas aulas de Musicalização Infantil na Escola de Música Momento Musical, em Piracicaba, São Paulo.

 

Capítulo 2: Educação Musical em família

Segundo Mariano (2015), muitas pesquisas acerca do desenvolvimento musical na vida do ser humano foram desenvolvidas ao longo dos séculos. Essa preocupação e atenção ganharam maior destaque a partir do século XX, principalmente com o surgimento tecnológico no campo da neurociência. A autora destaca Trevarthen e sua Teoria da Intersubjetividade inata, que exprimi a capacidade inata de um bebê realizar troca de sentimentos, interesses e intenções com outras pessoas, ou seja, o recém-nascido possui os recursos internos prontos para serem utilizados na comunicação, socialização, relacionamento e convivência com outras pessoas. E que as primeiras interações acontecem durante a gestação, por exemplo, quando a mãe canta para o bebê. A musicalidade presente nos bebês facilita o relacionamento social e as brincadeiras musicais, canções, gestos são recursos que auxiliam nessa relação. Assim, quando são usadas as brincadeiras e os jogos musicais com os bebês, onde os elementos musicais como pulso, ritmo, altura do som, melodia estão presentes, acontece comunicação.

A autora ainda destaca Edwin Gordon, pesquisador norte-americano, autor de importantes trabalhos no domínio da Psicologia da Música e Pedagogia Musical, ele compôs sua teoria através de testes realizados e observação do comportamento musical com crianças, avaliando os estágios do desenvolvimento das competências musicais desde os bebês recém-nascidos. Essas descrições são encontradas em seus livros: Teoria da Aprendizagem Musical: Competências, conteúdos e padrões e Teoria de Aprendizagem musical para recém-nascidos e criança em idade escolar. Para Gordon, conforme Mariano (2015), a criança nasce com certa aptidão musical que será desenvolvida com mais ou menos intensidade de acordo com os estímulos que receberá, com as vivências que terá e de acordo com o ambiente que estará exposta. Os pais são os primeiros responsáveis por esse desenvolvimento musical, devendo estimular as crianças a usarem a voz cantada na mesma medida em que usam a voz falada e a melhor forma é cantando para seus filhos, pois após 1 ano e meio a criança estará mais preocupada na aquisição da língua. Portanto, é ideal que ela tenha contato com a música antes dessa idade. Para ele, o papel dos pais e da família na vida musical das crianças é significativo e a interatividade ao cantar, brincar com música, ouvir música junto com seus filhos é fundamental. E continua frisando sobre a importância das canções de ninar e do vínculo entre mãe e bebê, pois a mãe, cantando para o bebê, consegue sua atenção por muito mais tempo do que falando com ele. O bebê deve ser introduzido ao mundo musical desde os primeiros meses de vida até 1 ano e meio, visto que nesse período ele irá absorver tudo o que ouve e aos poucos se apropriar de toda a estrutura musical e seus padrões melódicos e rítmicos presentes em pequenas canções ou até complexas sinfonias. Sempre frisando que esse processo só acontece através da experiência musical e antecede a teorização.

Segundo Filipak e Ilari (2005), os bebês na fase dos 18 meses aos 3 anos vivenciam diariamente inúmeras descobertas e experiências novas, seja o falar, o andar, ou o tatear. Estimular o bebê é muito importante para auxiliar em seu desenvolvimento físico, motor, emocional e psicológico. Os estímulos devem ser gerais, e a criança responderá a eles por meio de um sorriso, um balbucio, um movimento, o choro, ou alguma outra reação. O bebê também expressa as suas necessidades, como estar com fome, com sono ou dor e as mães conseguem distinguir o choro de fome do choro de dor. A partir deste momento começa a se estabelecer uma comunicação entre mãe e filho. Esta comunicação é uma linguagem com perguntas e respostas, assim como qualquer outra linguagem. Durante esse diálogo acontece uma troca de estímulo e prazer.

A criança ao se manifestar espera uma resposta, e os pais precisam estar atentos para perceber e responder a esta necessidade com o propósito de desenvolver os sentidos da criança, dando oportunidade para que ela se expresse, representando assim a etapa inicial para o desenvolvimento da linguagem, e o início para a música. Os pais devem estar atentos a todo e qualquer som emitido por seu filho, respondendo ou imitando-o, pois essa brincadeira de perguntas e respostas faz parte da comunicação diária e é dessa forma que os bebês vão sendo introduzidos e conhecendo o enorme mundo sonoro. Se os pais estiverem atentos a essa comunicação, com certeza a linguagem musical se estabelecerá com mais solidez, o que reforçará cada vez mais a interação entre pais e filhos.

Conforme Filipak e Ilari (2005), ao cantarem para seus filhos, os pais geralmente percebem que eles correspondem ao estímulo musical por meio de sorrisos e movimentos e que regularmente tornam-se serenos. Isso acontece porque a música promove essa interação e comunicação entre pais e filhos. A mãe quando canta para o bebê além de expressar sua emoção pode indicar ações. Habitualmente as mães cantam em dois estilos diferentes, as canções de brincar e as canções de ninar. As canções de ninar acalmam, e são entoadas para manter o bebê tranquilo e as canções de brincar despertam, e são entoadas para manter o bebê esperto, assim, os bebês ao ouvirem as canções respondem ao estímulo que lhes é proposto.

Além dos benefícios de desenvolvimento físico, psicológico e emocional, a música também ajuda a regular o estresse infantil, e auxilia na recuperação de crianças enfermas e prematuras. Por estas as razões, analisar a influência da música no dia a dia de mães e bebês é de extrema importância. Através da música e das atividades musicais dirigidas para mães e filhos, pode-se consolidar o relacionamento entre eles. A educação musical na infância ajuda a melhorar a maneira com que as mães irão utilizar a música em casa.

Mariano (2015) descreve que os sons, a entonação vocal, e os gestos são os princípios da comunicação do ser humano, e estão estritamente ligados à música. Por meio de canções entoadas aos bebês suscita o acolhimento, a demonstração de afetos, estabelecendo vínculos positivos que são essenciais para o desenvolvimento psicológico e social do bebê.

 

 

Capítulo 3: OS PAIS E AS CRIANÇAS NA AULA DE MÚSICA: Vivência com pais e crianças na Escola de Música Momento Musical em Piracicaba – SP.

 

Criar um ambiente favorável para a relação família/criança é a proposta das aulas de música na Escola de Música Momento Musical. O resgate de cantigas de ninar, canções infantis e cantigas de roda fomenta as atividades realizadas nas aulas. Faz parte do planejamento das aulas, atividades que promovem o acolhimento, a socialização, as brincadeiras com os pais e crianças, o relaxamento com momentos de carinho. Nas atividades planejadas são usadas histórias musicadas, marchas, rodas, parlendas, trabalhadas com diversidade de materiais, instrumentos de percussão infantis, que encantam com sons e cores distintas.

As aulas iniciam com uma caixa de brinquedos onde pais e crianças exploram da maneira que desejarem. A seguir, uma canção convida as crianças para guardarem os brinquedos, e representa um momento que os adultos ensinam as crianças guardar seus brinquedos sem falar nada, apenas cantando. A aula prossegue com canção de acolhimento, onde a criança se sente amada e única. Continuando vem a “Hora do canto” onde é introduzido um canto novo; Canções para acompanhar com movimento sem locomoção; Canções para acompanhar com movimento de locomoção; Parlendas – rimas – brincadeiras musicais; Marcha – dança – roda; Relaxamento e estiramento; Conjunto de percussão e Canto de despedida. Esse modelo de planejamento de aula segue até a criança completar dois anos. De acordo com Feres (1998), as aulas de música nessa fase de idade ensina a criança a respeitar regras e conhecer seus limites; proporciona um repertório para os pais cantarem com os filhos; estimula o canto e a fala; proporciona à criança um ambiente onde ela terá liberdade para criar; estimula maior ligação entre pais e filhos; além de desenvolver a percepção auditiva, musicalidade, sensibilidade e senso rítmico. Estimulando a disciplina, a criança consequentemente terá mais atenção, concentração e raciocínio.

A partir de dois anos, as aulas de música devem levar a criança a desenvolver a percepção sonora; a capacidade de discriminar, identificar e classificar sons; a capacidade de concentração, atenção e raciocínio; as relações temporais e espaciais e desenvolver habilidades motoras grandes e pequenas (FERES, 1989).

As atividades desenvolvidas para essa idade têm como objetivo principal desenvolver a percepção auditiva, psicomotricidade, percepção de tempo e espaço, além de resgatar um patrimônio cultural ao trabalhar canções populares, folclóricas, parlendas e danças.

Ao completarem três anos, as crianças ficam sozinhas nas aulas de música, porém os pais já possuem um vasto repertório e brincadeiras musicais para prosseguir cantando e brincando em casa.

A partir dos quatro anos de idade se inicia, segundo Feres (1989), o período intuitivo e apresentação de símbolos. Os objetivos da aula de música nessa idade é fazer a criança observar, discriminar, comparar, classificar, identificar e generalizar o som, conforme seu contato com o mundo sonoro; levar a criança a se expressar com liberdade toda a riqueza do seu mundo interior; desenvolver a percepção auditiva, o cultivo da voz; domínio do aparelho fonador; percepção rítmica; expressão corporal; manejo de instrumentos musicais; desenvolver a sensibilidade musical, imaginação, pensamento abstrato, criatividade, sociabilidade e respeito ao próximo; estimular a autodisciplina e como consequência a atenção, concentração e raciocínio.

Após o período intuitivo e apresentação de símbolos, o objetivo da aula de música na Escola Momento Musical é preparar a criança para o estudo de um instrumento. Para Feres (1989), a criança deve ser preparada para o estudo de um instrumento musical no ponto de vista afetivo, físico e intelectual: a) Afetivo: preparar a criança para expressar-se cantando, tocando, movimentando-se e criando, e ainda, sentindo o som do mundo que a rodeia e do seu próprio corpo. b) Físico: preparar a criança para conseguir relaxar e estirar; fazer exercícios respiratórios; ter coordenação viso-motora, noções de lateralidade e psicomotricidade suficientes para o estudo do instrumento escolhido. c) Intelectual: preparar a criança para ler melodias simples (tanto melódica quanto rítmica), ter conhecimento de noções básicas da teoria musical (pauta, claves, figuras musicais, notas musicais, entre outros); conhecer os principais instrumentos musicais.

Como metodologia, uma pesquisa experimental (coleta, levantamento e organização dos dados) foi realizada, através de observação dos pais e crianças na aula de música e um questionário foi elaborado e enviado aos pais. O objetivo foi estudar profundamente a relação entre pais e filhos, vivenciando juntos por um determinado período as aulas de música e analisar as contribuições que essas aulas podem trazer para a família.

O estudo de caso teve início na observação da participação dos pais e crianças em aula, na necessidade de orientação de como proceder com seus filhos nas diversas atividades, qual atitude tomar ao se deparar com a teimosia, manha, choro, quando a criança não quer dividir a atenção ou mesmo o instrumento usado em aula, como brincar, tocar e cantar para a criança. Posteriormente, descrever e analisar o processo musical, o desenvolvimento musical da criança, a relação das crianças com os pais e a formação continuada da música desde bebês.

A pesquisa foi desenvolvida com crianças a partir de 04 meses, desde 2016, intensificando a partir de maio de 2018.  O compromisso da pesquisadora, enquanto professora de musicalização infantil, com a qualidade do trabalho musical com bebês e crianças pequenas, foi o que fomentou sua vontade em contribuir com outros profissionais através dessa pesquisa.

A seleção constou com crianças de quatro meses a seis anos, totalizando onze crianças , na qual os pais participam ou participaram das aulas, visto que ao completarem 03 anos, as crianças começam a frequentar as aulas sem a presença destes. Um questionário foi elaborado e enviado para vinte e dois pais e mães, entretanto, 15 responderam. São 9 pais que frequentam as aulas com seus filhos (menores de 3 anos) e 6 pais que não frequentam mais (participaram até as crianças completarem 3 anos).  Algumas crianças frequentam as aulas desde 2016 e outras, há 6 meses.

Ao perguntar, no questionário, como seu filho reage ao participar da aula de música, as respostas, em geral, foram que as crianças reagem com alegria, satisfação, muita animação, entusiasmo, com prazer, com atenção, interagem com tudo (brinquedos, materiais, instrumentos) e com todos (amiguinhos, professora, pais), ama tudo o que é proposto. Voltam para casa contando a atividade realizada no dia (crianças maiores de 03 anos). Cantam as músicas e falam sobre os instrumentos utilizados.

Questionando por que é importante os pais participarem da aula de música com seus filhos, responderam que a música proporciona uma aproximação entre eles, melhorando a relação interpessoal e assim, criam-se memórias afetivas na criança. Existe um vínculo diferente durante a aula, na correria da vida diária, nem sempre conseguem dar atenção aos pequenos e naquele momento esquecem os problemas, os compromissos, e apenas vivenciam intensamente o estar junto aos filhos. É um momento dos pais demonstrarem a importância de adquirir um conhecimento, que irá desenvolver o intelecto da criança e contribuir com seu crescimento pessoal, reforçando as atividades em casa. A construção do aprendizado se dá também pelo carinho, pela confiança e pelo amor, quando a criança sente que ao lado dela está a pessoa em quem ela pode confiar, além de todos os benefícios que as aulas de música trazem tornando mais forte esse contato, dando a oportunidade de ampliar e reforçar o vínculo afetivo existente entre pais e filhos. É um momento diferente na rotina da semana, com descontração, muita interação e afeto entre pais e filhos e também com outros pais e crianças, que ficará na memória afetiva delas. Ótima oportunidade de contato com a criança em uma atividade prazerosa para ambas as partes. É um momento não só dela, como também de toda a família. Momento este de aprendizado, entretenimento, fortalecimento dos vínculos das crianças/bebês com outras pessoas, incluindo os vínculos familiares com seus pais.

Segundo Filipak e Ilari (2005), ao cantar ou fazer música com seus filhos, os pais sempre percebem que as crianças respondem com sorrisos e movimentos, e que, geralmente, ficam tranquilas. Observando esta interação, pode-se assegurar que a música é uma ferramenta muito importante na comunicação entre pais e crianças.

Ao indagar se eles têm o hábito de cantar para os filhos e como as crianças reagem, todos responderam que sempre cantam para eles. Alguns pais cantam desde a gestação. As reações são de alegria, sorrisos, as crianças menores balbuciam, as maiores cantam junto, pedem para cantar novamente, dançam, ficam calmos, prestam atenção, completam as frases e se divertem.

Os pais acreditam que a aula de música traz muitos benefícios como momentos de entretenimento em família, lazer e felicidade, descontração e tranquilidade, aumento dos vínculos familiares e laços afetivos, oportunidade de conhecer melhor a criança e acompanhar seu desenvolvimento, harmonia, aumento na interação pais e filhos, disciplina, momentos de alegria e muita brincadeira, união e memórias afetivas, integração e amizade com amigos, professora e pais.

Os pais reconhecem que a música contribui para o aumento dos laços afetivos porque é uma atividade realizada em família e que todos se divertem, aumentando a afeição entre eles. As músicas cantadas junto com a família poderão ser lembradas sempre pela criança, além do momento de cantar junto ser especial e estabelecer um contato próximo, além de ser uma forma de trabalhar as emoções e acalmar. Hoje, em uma era em que todos estão conectados ao celular, a aula de música é um momento de curtirmos a família e esquecer o aparelho móvel e dessa forma aproximar pais e filhos. A música também é um meio de comunicação entre pais e filhos trazendo alegria, união e divertimento, momento só da família e da criança, dedicação integral para ela.

Todos os pais colocam músicas para as crianças ouvirem em casa, com bastante variedade de estilos e ritmos, como canções infantis, cantigas de roda, música clássica e instrumental, samba, sertanejo, rock nacional e internacional, MPB, POP nacional e internacional, rock (gravado em versões para bebês).

Para Filipak e Ilari (2005), não importa a profundidade de conhecimento musical da mãe (neste caso, dos pais), mesmo que intuitivamente, haverá interação com seu filho, assim como haverá reações. As interações e reações são de suma importância no desenvolvimento e no fortalecimento da relação pais-criança. O estímulo acontece para ambos, além de fortalecer a identidade de um ao outro.

Os pais, ao serem indagados sobre quais os benefícios a aula de música traz para seus filhos, as respostas foram: socialização, disciplina, atenção, concentração, criatividade, fala, confiança, interação, integração, coordenação motora, ritmo, respeito, raciocínio e memória.

Sobre a participação dos pais na aula de música, relataram que as aulas representam um aprendizado para o adulto também, pois aumenta o repertório de música de qualidade a ser cantada para crianças. Observando como a criança reage positivamente às novidades que vê na aula, o adulto consegue ter como exemplo para perseverar nas conquistas que deseja e na maneira como enxerga a vida. Acompanhar o desenvolvimento da criança faz com que analisem e percebam a evolução dela e o quanto a música pode ajudar no contato pais e filhos. Ensina como possibilitar estímulos com seu filho e faz perceber o quão importante é estar presente e dispensar um tempo juntos para brincar, cantar, integrar, para fortalecer o vínculo familiar, demonstrando à criança o apoio que sempre terá dos pais. Ensina a valorização dos momentos em família e possibilidade de aplicar uma atividade divertida para ambos nos momentos fora da aula, por exemplo, quando se está andando de carro. Ajuda a resgatar brincadeiras e músicas que o adulto cantava na infância, a aprender novas cantigas, notas musicais, ritmo, coreografias, tocando e cantando juntos. Auxilia a conhecer melhor a criança e tentar entender o que se passa em sua mente.

De acordo com Filipak e Ilari (2005), estabelecida essa comunicação através da música, que pode ser considerada inteiramente instintiva, constitui-se pouco a pouco uma brincadeira entre pais/mães e filhos, criando assim, um laço afetivo.

Ao final, foi solicitado que os pais relatassem algo interessante que aconteceu em casa após uma aula de música. E as respostas foram extremamente interessantes e variadas:

“Muitas vezes após a aula, a Ana Laura, reunia todas as bonecas em um círculo, pegava o violão de brinquedo e reproduzia a aula, até mesmo inventando novas músicas” (mãe da Ana Laura – iniciou aos 02 anos, está com 04 anos).

“Certo dia, o meu filho depois de meses de aula e já com a fala desenvolvida, decorou algumas das músicas que aprendeu na aula. Assim, ele pegou o seu violãozinho de brinquedo, cantou e tocou uma destas músicas, do mesmo modo efusivo que esta é reproduzida em aula, gerando um momento de riso e descontração por mim e pela mãe dele, pelo modo que ele fez e pelo ato inesperado para aquele dado momento” (pais do Leonardo – iniciou aos 10 meses, está com 02 anos e 10 meses).

“Um momento interessante foi logo após as primeiras aulas, ao chegar em casa, ele pegou um violão de brinquedo e começou a tocar e cantar uma das músicas que ouvia todas as aulas e pediu para gravar e mostrar para a tia Ivete. Ele cantou direitinho e afinado” (mãe do Frederico – iniciou com 02 anos, está com 05 anos).

“Meu filho sempre foi um pouco tímido e um determinado dia, tendo várias pessoas em casa, ele pegou sua bateria seu microfone e começou tocar. Ele cantava alto as músicas que havia aprendido na aula de música, deixando todos os que estavam em casa de boca aberta, pois não parecia a mesma criança que ali estava antes” (mãe do Guilherme – iniciou com 02 anos e cinco meses, está com 06 anos).

“Ele imitou os sons dos animais quando estava brincando com uns animaizinhos de brinquedo que ele tem. Eu acho legal que ele também sabe a sequência de algumas músicas, por exemplo, se eu canto com ele a música do pedalinho, assim que eu termino, ele já fala estrela” (mãe do Isaac – iniciou com 08 meses, está com 01 ano e 8 meses).

“Desde o início, observamos que ela trazia o que aprendia na aula e, também, nas apresentações: sempre que canta, agradece, fazendo o movimento com a cabeça. Faz os sons das músicas, e já tentava mesmo quando era ainda difícil para ela: “cavalinho faz assim (…), a pipoca estoura assim…(…)”. Nos últimos meses, canta a maior parte das música, nos ensina e repete os gestos feito pelas professora; ela faz o “carinho da tia Ivete” com as bonecas, depois de ter cantado a música “(…) que bom que você veio gosto muito de você (pais da Olívia D. – iniciou com 08 meses, está com 02 anos e 10 meses).

“De uma maneira geral é interessante observar no decorrer dos dias a nossa filha repetindo as danças e cantigas que realiza na sala de aula” (pais da Olívia M.  – iniciou com um ano, está com 02 anos).

“O meu filho se empolga tanto com as aulas que ele chega em casa e quer ensinar o que ele aprendeu em aula (aí viramos os alunos e ele o professor), hoje além da musicalização infantil ele também faz aula de bateria, só tenho que agradecer a Professora Ivete por tanto carinho e dedicação” (mãe do Otávio – iniciou com 01 ano e 6 meses, está com 05 anos).

“O principal interesse dela, atualmente, acredito que bem influenciada pelas aulas de música, é ouvir o som que as coisas fazem (adora bater nas coisas, ou bater as coisas umas nas outras para ouvir o barulho)” (pais da Mariana – iniciou com 04 meses e está com 08 meses).

“Minha filha sempre sai da aula de música contando o que aconteceu. Sempre canta as músicas que aprendeu ou nos mostra como aprendeu a tocar a flauta. Quer que cantemos junto com ela. Tenho uma filha que mora em Curitiba, então ela sempre diz: mamãe, grava eu cantando pra Camila ver. Ao final da apresentação dela no Dia do Músico, quando chegou em casa disse: “eu nem chorei com o barulho…já sou grande” (mãe da Alice – iniciou com 02 anos, está com 04 anos)”.

“No início desse ano, como parte da musicalização infantil, a Tia Ivete introduziu a flauta doce. Após a primeira aula, onde foi ensinado como se deve assoprar a flauta, usando somente as pontas dos lábios, ao chegar em casa, Lucas pegou sua flauta e repetiu todos os ensinamentos da aula, me ensinando como se deve fazer o sopro e representando em sua flauta a maneira correta e incorreta de assoprar” (mãe do Lucas – iniciou com 01 ano e seis meses – está com 04 anos).

O uso da música com bebês tem despertado interesse em muitos pesquisadores e, de acordo com Filipak e Ilari (2005), o que se tem descoberto é que além de todos os benefícios de desenvolvimento físico, psicológico e emocional, a música tem grande influência na regularização do estresse infantil, auxiliando na recuperação de crianças enfermas e prematuras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A música é uma importante ferramenta para o elo afetivo entre pais e filhos, além de contribuir para a formação integral da criança, pois através dela, a criança se expressa e cria. Um bebê está sempre alerta aos movimentos e sons que o cercam e mostra-se mais interessado e atento ao canto dirigido a ele do que à fala.

Observa-se que todas as crianças ao participar da aula de música reagem com alegria, satisfação, animação, entusiasmo, atenção e acontece uma comunicação agradável e uma interação surpreendente entre pais e filhos, professora e amigos.  O prazer de ouvir e fazer música são nitidamente notados.

A presença de gestos que auxiliam na comunicação, a forma de entoar os cantos, as cantigas de roda, as canções de ninar, as brincadeiras musicais são vivenciadas pelas crianças e pais, que levam para a casa toda a riqueza de brincar, cantar e se divertir em família.

A aula é pensada e planejada para desenvolver habilidades e percepções, algumas músicas despertam a atenção, outras acalmam a criança.

Pais e mães revelaram que cantam diariamente para seus filhos em diversas atividades, até mesmo no carro. Os bebês e crianças respondem atentos às canções mostrando-se interessados na música e demonstram suas preferências musicais através de sua expressividade. Ao cantar para seus filhos, os pais transmitem emoções e mensagens que ficarão registradas em suas memórias para sempre.

Portanto, as aulas de música trazem inúmeros benefícios às crianças, incentivando seu desenvolvimento nos aspectos cognitivos, linguísticos e sócio-afetivos e, concomitantemente, proporcionando a aquisição de novos conhecimentos, além de auxiliar e aumentar a relação afeitiva entre pais e filhos e o repertório musical. Nas aulas, as crianças têm contato com a música através de cantigas próprias para a idade e que trazem um vasto e rico conteúdo melódico e rítmico; histórias musicadas; instrumentos que emitem vários timbres sonoros; dança e expressão corporal; atividades variadas para trabalhar a coordenação motora, atenção, percepção auditiva, memória, concentração, que vão se modificando no decorrer do curso de acordo com cada faixa etária e turma.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BRITO, T. A. de. Música na educação infantil: propostas para a formação integral da criança. São Paulo: Peirópolis, 2003.

 

FERES, J. S. M. Iniciação musical, brincando, criando e aprendendo: livro do professor. São Paulo: Ricordi Brasileira, 1989.

 

_____________. Bebê – música e movimento: orientação para musicalização infantil. São Paulo: J.S.M. Feres, 1998.

 

ILARI, B.; FILIPAK, R. Mães e Bebês: vivência e linguagem musical. Revista Música Hodie, v. 5, n. 1., p. 55-100, 2005.

 

MARIANO, F. L. R. Música no berçário: formação de professores e a teoria da aprendizagem musical de Edwin Gordon. 2015. 259 p. Tese (Doutorado – Pós-Graduação em Educação. Área de Concentração: Psicologia e Educação) – Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.

 

NUNES, P. A. O. Experiência auditiva no meio intra-uterino. 2010. 15 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Mestrado Integrado em Psicologia) – Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Portugal, 2009. Disponível em <http://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0157.pdf >  Acesso em:  17 mar. 2019

 

STAHLSCHMIDT, A. P. M. A canção do desejo: da voz materna ao brincar com os sons, a função da música na estruturação psíquica do bebê e sua constituição como sujeito.  2002. 321 p. Tese (Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Educação) – Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2002.

 

 

 

 

ANEXO

 

QUESTIONÁRIO

 

Nome (pai/mãe):                                               Idade: Número de filhos:

Idade da criança:                                               Sexo da criança:

1) Com que idade seu(sua) filho (a) começou a fazer aula de música?

 

2) Como seu(sua) filho (a) reage ao participar  da aula de música?

 

3) Por que é importante os pais participarem da aula de música com seus filhos?

 

4) Você tem o hábito de cantar para seu filho em casa? O que acontece ao cantar para ele?

 

5) Quais são os benefícios que a aula de música traz para a família?

 

6) Você coloca música para seu(sua) filho(a) ouvir em casa?

(    ) Sim  ( ) Não   ( ) As vezes

 

7) Que estilo musical coloca para seu filho ouvir em casa?

(   ) Clássico       ( ) Instrumental     ( ) Canções Infantis     ( ) Cantigas de Roda (  ) Não coloco? ( ) Outros – Quais  ____________________________________

 

8) Você acredita que a música aumenta o laço afetivo entre pais e filhos? Por que?

 

9) Em que a aula de música tem ajudado seu(sua) filho (a)?

(   ) Socialização        ( ) Disciplina  ( ) Atenção   ( ) Concentração (   ) Criatividade ( ) Fala     ( ) Outros ___________________________

 

10) A aula de música representa um aprendizado para você também? Ou somente para a criança?

 

11) Relate algo interessante que aconteceu em casa após uma aula de música.

Endereço
Rua 141, Qd 12A, Lt 01, nº 240, Setor Marista, Goiânia, Goiás

Telefones
(62) 3241 2540

(62) 99923 3332

 



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