Musicalização: A importância da musicalização no aprendizado escolar das séries iniciais

RESUMO

Este trabalho apresentará uma pesquisa sobre a importância da música na sala de aula, um breve histórico sobre a trajetória da música antes e após a vinda da mesma para o Brasil, mostrando seu desenvolvimento e desafios perante as leis criadas, as lutas dos educadores no decorrer dos anos comprovando as melhorias do desenvolvimento em cada fase do aprendizado infantil, e as mudanças no currículo escolar. Mostrará também a falta de profissionais na educação artística, na educação musical e musicalização. Esta pesquisa foi escrita mediante informações bibliográficas e pesquisa de campo realizada nas escolas do município de Uruará como entrevista relatando a importância da musicalização na vida pessoal e escolar da criança e os desafios enfrentados dentro de cada realidade.

 

 

Palavras chave: musicalização, desenvolvimento infantil e currículo.

 

INTRODUÇÃO

 

Todo trabalho relatado foi baseado em pesquisas bibliográficas e pesquisas de campos em forma de entrevista,que conta em seu primeiro capítulo a história da música na escola, sua chegada ao Brasil e de que forma vem se desenvolvendo até os dias de hoje. A partir daí, algumas questões foram esclarecidas em relação à musicalização, o seu papel na educação e no desenvolvimento de uma criança em vários sentidos e fases, observando que através de estudos e pesquisas pode-se perceber que é de nossa natureza aprender a distinguir sons desde a barriga da mãe, ou quando o bebê aprende diferenciar a voz dos familiares, observar os diferentes sons da natureza ou até mesmo fazer barulho com objetos.

Neste sentido, será apresentado nos próximos capítulos as dificuldades e desafios da obrigatoriedade da musicalização e educação musical no currículo escolar desenvolvido no Brasil durante anos tornando-se obrigatória como disciplina de Artes deixando alguns questionamentos para serem discutidos em outro momento. (CARVALHO 2005)

É relatado também nas considerações finais deste trabalho,a importância da musicalização no aprendizado escolar, suas fases na infância e toda a sua capacidade de extrair a melhor qualidade de aprendizado das crianças em todos os sentidos, e por consequência trazendo grandes benefícios para seu aprendizado pessoal, aprendendo os valores morais. (BRÉSCIA 2003).

Concluindo assim com as seguintes indagações : quais benefícios a música pode proporcionar no aprendizado diante o ensino-aprendizado e socialização? Que incentivos e valores podem trazer? Que ações a música exerce para na psique e na coordenação motora da criança?

 

  1. RETROSPECTIVA DA EDUCAÇÃO MUSICAL NAS

ESCOLAS

 

A música vem do grego mousiké e designava a “arte das musas” fundindo-se em uma só a dança e a poesia. Desde a infância, os gregos aprendiam que a música era a formação do caráter, um meio de educar e civilizar, era uma forma de trabalhar o espírito purificando-o, buscando equilíbrio, preparando os alunos não apenas nos livros, mas na experiência de vida como cidadãos para participar e usufruir dos benefícios da sociedade. Uma pessoa educada por meio da música tendo o sentido de ritmo e harmonia tem facilidade e sensibilidade de sentir dentro de si a satisfação pelo belo e de rejeição pelo feio. Assim ela foi sendo reconhecida e surgiram as primeiras preocupações com a pedagogia da música tornando-a uma disciplina escolar.

Pouco a pouco a música foi sendo considerada como um incentivo a inteligência cultivando as artes liberais, o desenho, a escrita, a matemática e claro o canto em um grupo de coro ou tocando pelo menos um instrumento musical.

Segundo LOUREIRO, na Grécia se desenvolveu um elemento chamado: raciocínio matemático, onde as disciplinas por serem ensinadas com música tornaram-se mais atraentes e agradáveis. Segundo o matemático Pitágoras, o primeiro a organizar o som de uma escala musical por meio de frações matemáticas com a ajuda de um monocórdio, a música e a matemática eram uma só, e era considerada fonte de sabedoria.

Na época, o ensino de música funcionava de acordo com a idade das crianças. Dos 7 aos 14 anos,os conteúdos previam ginástica e principalmente música para a qual era destinada a maior parte do tempo, desenvolvendo conhecimentos de poesia, história, drama, oratória, ciência, princípios de som, grafia e as leis que regem a construção melódica e rítmica.

Pouco antes dos 20 anos até os 30 anos de idade iniciava-se o segundo nível,o do conhecimento musical.Era mais teórico e entendido como estudo do ethos musical. Com mais 5 anos de estudos se concluía o terceiro nível na educação musical levando o aluno ao estudo da dialética, que só estudavam aqueles que fossem mais capazes para uma educação mais apurada e os demais,sem essa aptidão, seriam militares.

Com a invasão do Império Romano em Grécia notou-se a formação dos soldados romanos, que eram educados para serem duros, rígidos, disciplinados e severos,e dos homens gregos de serem sensíveis e de se deixarem levar pela emoção, tudo isso foram sendo alterados. Os ideais e propósitos do povo romano restringiam-se à conquista do mundo e ao domínio dos povos conquistados. Assim, sob a influência grega, as artes e as letras começaram a despertar em Roma. Com o tempo a educação musical vai ganhando espaço entre os romanos, sendo estudada como um saber científico, valorizando seu aspecto teórico. (LOUREIRO, 2010).

Sob essa influenciada Igreja Católica inseriu o ensino da música como disciplina no domínio das ciências matemáticas fundando capelas, colégios, bibliotecas, entre outros, estimulando a formação de cantores, compositores e musicólogos, porque acreditava que a música fosse capaz de exercer forte influência sobre os homens. Dessa forma, as canções assumem o caráter de oração cantada, símbolo da fé cristã.

A escola Normal criada em 1835, foi fundida ao Liceu Provincial em 1847 que visa à preparação de professores para o ensino inicial e médio, com o currículo simples, mas enriquecido com a inclusão de novas disciplinas, entre elas a música. (LOUREIRO, 2010).

A música tinha um papel importante na organização escolar, e desde então,  observava-se problemas em relação ao professor, a forma com que eles conduziam o ensino da música era muito pobre e por fim eram criticados. Segundo (Gazeta Musical1891, 1892, 1893, apud Fuks 1991a, p. 29) os professores mais antigos não sabiam música e os mais novos não davam importância.

Em 1841 a classe dominante fez com que fosse fundado o Conservatório Musical do Rio de Janeiro, a primeira do Brasil, hoje chamada Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro,fundada por Francisco Manoel da Silva.

O século XIX termina com mudanças tanto nos planos culturais, sociais, políticos e econômicos, culminando com a Proclamação da República, apontando o início de uma nova fase no ensino das artes até então influenciada pela Europa.

O Rio de Janeiro era a capital do país, um dos principais focos do ensino musical para o Brasil. A educação musical no século XIX, segundo Freire (1996, pp. 187-201), apresenta duas formas de ensino principais: a formal, praticado dentro do contexto escolar para o desempenho de funções específicas, como atuar na igreja e no teatro e a informal praticada fora do contexto escolar como salões e salas da sociedade carioca da época.

E novamente o ensino da música sofre mudanças no início do século XX e músicos e pedagogos Edgar Willems (1890-1978), Jacques Dalcroze (1865-1950), entre outros, elaboram propostas para o ensino de música, como uma alternativa para a escolarização de crianças vindas de classes sociais mais humildes. E esse movimento se intensifica graças as mudanças no plano político, social e econômico que culminam com a Revolução de 30. (LOUREIRO, 2010).

João Gomes Júnior introduz um novo modelo para o ensino de música, que é apresentada no livro O ensino da música pelo méthodo analytico, publicado em 1915 em parceria com Carlos A. Gomes Cardim. Destaca o canto coletivo, com várias vozes, com ou sem acompanhamento de instrumentos musicais e focando na formação da cidadania e na construção da nacionalidade. Surge então, Heitor Villa-Lobos o qual tem raízes na tradição folclórica, que praticava o canto orfeônico em todas as escolas do país. Sua proposta era veiculada por Gomes Júnior que criam em uma nova forma de ver a música na escola que se inicia na Primeira República e atinge seu ponto alto no Estado Novo.

A partir da Revolução de 30, o ensino da música cresce com grande importância nas escolas, sendo considerado um dos principais meios de exaltação da nacionalidade, determinando sua difusão por todo o país. Nesse mesmo período o ensino da música se intensificava cada vez mais com o auxilio de três músicos-educadores modernistas Heitor Villa-Lobos, Liddy Chiaffarelli Mignone e Antônio Sá Pereira, os mesmos introduziram dois métodos a serem desenvolvidas no ensino da música em instituições diferentes : o canto orfeônico e a iniciação musical, o ponto em comum é a exacerbação nacionalista, ambas apresentam um repertório musical nacionalista com ligação ao momento político do país, havendo a preocupação em atender às diferenças individuais dos alunos no processo de musicalização. (LOUREIRO, 2010).

Com a ajuda do governo Getúlio Vargas, Villa-Lobos dedicou-se as pesquisas sobre a educação cívico-musical, avaliando sempre os melhores métodos para serem aplicados às crianças brasileiras nas escolas primárias e normais nas massas urbanas. No entanto, Getúlio Vargas assinou um decreto nº 18.890, de 18 de abril de 1932, considerando o canto orfeônico obrigatório nas escolas públicas do Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, foi criado o Curso de Pedagogia de Música e Canto Orfeônico e o Orfeão dos Professores do Distrito Federal para facilitar o educador do magistério público a prática da teoria musical e a técnica dos processos orfeônicos que depois foram colocados em prática nas escolas sociais. Os alunos realizavam verdadeiros espetáculos corais apresentando e marcando todos os feriados nacionais.

Em 1936, Villa-Lobos participa de um congresso de educação musical e artística do Rio de Janeiro expondo numa conferência seu trabalho e diz num dos trechos de sua fala :

 

Nenhuma arte exerce sobre as massas uma influência tão grande quanto a música. Ela é  capaz de tocar os espíritos menos desenvolvidos, até mesmo os animais. Ao mesmo tempo, nenhuma arte leva às massas mais substâncias. Tantas belas composições corais, profanas ou litúrgicas, têm somente esta origem – o povo. Loureiro (apud Schwartzman et al. 2000, p. 108).

 

O projeto de Villa-Lobos não foi o único. Outros projetos foram apresentados na época. Segundo Loureiro, a constituição de 1937, o governo, afim de favorecer a divulgação da música brasileira, adota uma série de medidas como a criação de Escolas de Música, Conservatórios, Universidades, dando importância à música e visando a formação dos professores para o ensino do canto orfeônico nos níveis primário e secundário, promovendo a gravação de discos do hinário nacional e de músicas patrióticas e populares.

Nesse projeto, havia a necessidade de formar novos professores com urgência deixando de lado a qualidade dos profissionais. Nesse contexto, a pedido da Sema (Superintendência de Educação Musical e artística), foram criados órgãos filiados para a implantação do projeto em todo o país. Mesmo assim, não havia professores suficientes para atender a demanda das escolas públicas. Contudo, a Sema criou cursos rápidos de pedagogia da música e de canto orfeônico, com duração de um mês.

De acordo com LOUREIRO (Funks 1994a, p. 173),

 

Estes professores, forjados em somente um mês de aulas, tinham que continuar a ser orientados durante toda a sua prática pedagógica. Estabeleceu-se, então, entre os professores de música e o Sema uma relação-pedagógico-realimentadora e fiscalizadora. Objetivava-se fazer com que toda a escola pública participasse cantando das gigantescas concentrações orfeônicas que ocorriam na época. O Sema, por intermédio desta ação centralizadora que priorizava a disciplina e o civismo, passaria a controlar o fazer musical da escola pública.

 

Apesar de tantos projetos sendo aplicados, a educação musical encontrou muitas dificuldades como a vinda dos professores ao Rio de Janeiro para os cursos,  a saída de Villa-Lobos da direção do Sema, em 1944, e com a queda de Vargas, o fim do Estado Novo, em 1945, aos poucos essa prática foi sendo podada. Segundo Loureiro, na visão de Fuks (1991b, p. 124), o curso de música aos professores foi se tornando relapsa e consequentemente diminuindo a qualidade de ensino.

Mesmo com o desaparecimento do canto escolar, criou-se a Comissão Consultiva Musical, cujo objetivo era manter o bom nível pedagógico-musical dando sinais de modernização.

De acordo com LOUREIRO (apud Fuks 1991b, p. 124),

 

…pouco a pouco as escolas, principalmente as escolas públicas, foram calando o seu canto. Mas este silêncio musical também expressava o término do modernismo, de cuja efervescência viera o brilho que a educação musical dos ano 30 e parte dos 40 tivera.

 

Nos últimos anos da década de 40,com o fim da ditadura Vargas,vem  o término do movimento modernista e junto a educação musical. Surge então um novo movimento das artes, o da criatividade e consequentemente uma nova forma de ensinar música, desenvolvida por Antônio Sá Pereira e Liddy Chiaffarelli Mignome, baseada no novo, na criação, no experimentar, que aos poucos foi tomando espaço.

Para o ensino de música, seria introduzida uma nova metodologia baseada num ensino intuitivo e ativo, com ênfase no aluno, encontradas nas ciências que explicam o comportamento e o processo de aprendizagem humanos. Assim, a música cede lugar aos sentimentos, buscando a liberdade.

Segundo LOUREIRO (apud Fuks 1991b, p. 135),

 

Pelas próprias características internas, passaria por um processo de metarmorfose que faria absorver este novo que (…) será fortemente marcado pela idéia da criatividade. Dentro desta atmosfera de mudanças, os educadores de iniciação musical voltar-se-iam para uma procura de formas de musicalização mais coerentes com as transformações por que estavam passando o Brasil e o mundo.

 

Pode-se afirmar que a educação musical no Brasil buscava uma ampliação no seu espaço. O movimento artístico representou até os anos 60 uma nova ideia estética, rompendo com o tradicional. Mas na década de 70, o ensino da música sofre novas consequências com o processo de redemocratização no inicio da queda do Estado Novo. Em 1971, o governo cria uma nova lei de ensino (lei nº 5.692/71), para uma nova organização à educação escolar. As aulas de música passam a integrar junto com as artes plásticas e o teatro, na disciplina educação artística. Desde então, até a década de 1990, a formação musical voltou a se dar quase que exclusivamente nas escolas especializadas – escolas livres de música, conservatórios,cursos técnicos e superiores, nas modalidades licenciatura e bacharelado – permanecendo apenas em algumas escolas públicas e privadas de educação infantil, nível fundamental e médio.

 

1.1     O desenvolvimento da educação musical das escolas no Brasil e

seus desafios

 

A Arte/Educação é epistemologia da arte. É a ciência do ensino de arte. Dessa forma a Arte/Educação tem se mostrado um campo amplo de conhecimento em que durante sua trajetória vem apresentando diferentes estudos, pesquisa científica na área da arte com diversos tipos de atuação, PEREIRA (2011).

Há muitos anos o ensino de música vem se ausentando do currículo escolar brasileiro o qual começa a perder identidade como disciplina. A educação musical é entendida como ciência ou área de conhecimento. Ao longo dos anos a prática de educação musical tem sido fundamentada com os seguintes valores: sociais, estéticos, multicultural, psicológico e tradicional. Há diferentes práticas e propostas espalhadas pelo país com a intenção de amenizar as necessidades pedagógicas musicais. São muitos os problemas enfrentados na área de educação musical dentre eles a de sistematização do ensino de música nas escolas e a falta de conhecimento do valor da educação musical como disciplina.

No que se refere à educação musical dentre a sociedade brasileira em pleno desenvolvimento sociocultural e desenvolvimento acelerado da tecnologia, surge à necessidade de fazê-la interagir com este mundo globalizado prevenindo o declínio de sua importância social.

A arte tem sua importância devida ser um instrumento de desenvolvimento da personalidade e da criatividade, o que é um meio de educação indispensável e deve ser considerado da mesma forma que outras áreas de conhecimento como matemática, história, etc.

Verifica-se que, a profissão artística trás muitos benefícios, para todos em qualquer idade ou contexto, da convivência com as artes e a psicologia da música. Daí surge à necessidade de definir os níveis de idade do ensino musical, uma vez que a responsabilidade mais específica reside nos Educadores Musicais. Na década de 70 surgem os primeiros cursos superiores de Educação Artística no Brasil.A Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 5.692/71 instituiu a Educação Artística como atividade educativa e a necessidade de criação de cursos de graduação para formação do professor polivalente, em apenas dois anos e seja “capaz de lecionar música,teatro, artes visuais, desenho, dança e desenho geométrico, tudo ao mesmo tempo, sem nenhuma garantia de conhecimento profundo em algumas das matérias da primeira a oitava série e, em alguns casos, até o segundo grau”, COSTA (2011).

Quando se discute “Educação Musical”, é importante lembrar as Licenciaturas, previstos pela Lei nº 9394/96, nos remete às Universidades brasileiras e aos Cursos atualmente oferecidos. O que se vem buscando, em encontros(Encontros regionais e nacionais da ABEM  –  Associação Brasileira de Educação Musical.) é o resgate da especificidade e a qualidade da formação musical. Como exemplo, o Curso de Licenciatura em Educação Musical, esse curso, como tantos outros no Brasil, visa a formação do professor de música para o ensino fundamental e médio, capacitando também Professores- Regentes de bandas e corais, que atuam em escolas, em empresas e igrejas, bem como Professores de instrumentos musicais e canto que trabalham em escolas específicas de música (públicas e privadas).

Como já foi citado no primeiro capítulo o ensino da música já existia no Brasil desde a vinda dos Jesuítas por volta de 1549, mas só na década de 30 do século passado que foram criadas as primeiras escolas especializadas em arte para crianças e adolescentes. Logo, na década de 40 o estado político ditatorial implantou a pedagogização da arte na escola e logo dá início a utilização instrumental da arte na escola para treinar a visão e liberar as emoções fazendo com as expressões das crianças se manifestassem espontaneamente. Mas em 1964, com início da ditadura militar, os professores foram perseguidos e as escolas foram fechando as portas, BARBOSA (2003).

A música é uma prática social, pois nela estão inseridos os valores e significados atribuídos aos indivíduos e à sociedade que dela se ocupam (LOUREIRO)

Segundo Loureiro (apud FONTERRADA 1994, p. 41),

 

O aprendizado da música envolve a constituição do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem da música. O uso dessa linguagem irá transformar esse sujeito, tanto no que se refere a seus modos de perceber, suas formas de ação e pensamento, quanto em seus aspectos subjetivos. Em consequência, transformará também o mundo deste sujeito, que adquira novos sentidos e significados, modificando também a própria linguagem musical.

 

Loureiro destaca (apud Koellreutter, 1990, p. 6) que a educação musical nos atrai para uma revisão de valores, ideias, metodologias e práticas de ensino musical no momento da contemporaneidade.

 

Somente o ensino da música como arte ambiental e socialmente funcional […] contribuirá para a conscientização do homem brasileiro e para o desenvolvimento da população. […] A arte, e a música em particular, deverão ser o meio de prevenção e fortalecimento da comunicação pessoa a pessoa. […] E a educação musical deve transformar-se num instrumento de progresso, de surgimento da personalidade e do estímulo à criatividade.

 

Os problemas existentes até hoje são muitos e precisam ser enfrentados pelas universidades, como por exemplo, a realidade das salas de aula sem acústica e das cadeiras das orquestras em relação a questões acadêmicas, a remuneração digna de professores de música, o espaço específico para aulas de Música nas escolas das redes pública e privada. Dessa forma, discute-se uma nova legislação de benefícios coletivamente para oferecer um curso de música de qualidade aos estudantes procurando levar música para todos, SILVA CY (2008).

 

 

2.MUSICALIZAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

 

2.1     O que é musicalização?

 

Antes de iniciar sobre o conceito de musicalização abordemos um pouco sobre música. Segundo os significados na Wikipédia, enciclopédia livre, para a definição de música, ela está ligada a arte de combinar os sons de maneira agradável aos ouvidos, composta por três elementos que são melodia: sequência de notas musicais ou aquilo que pode ser cantado, harmonia: é a base da melodia, quando duas ou mais notas são reproduzidas ao mesmo tempo, e o ritmo: que dita o tempo da pulsação e marcação regular e a duração de cada som. A música é tão antiga quanto a linguagem e as artes visuais, é uma manifestação folclórica comum em todas as culturas, de acordo com BRÉSCIA (2003) é a linguagem universal de toda a humanidade, vivenciadas desde antes do nascimento do bebê.

De acordo com a Wikipédia, musicalização é o processo de construção do conhecimento musical, despertando e desenvolvendo o gosto pela música transformando o conhecimento e contribuindo para a formação do ser humano. Para BRÉSCIA (2003), a música favorece o desenvolvimento da sensibilidade, criatividade, senso rítmico, da imaginação, concentração, respeito ao próximo, socialização e afetividade, contribuindo também para a consciência corporal e de movimento.

Entende-se que a musicalização é em si como um estimulante constante de curiosidade em conhecer o mundo dos sons, despertando a criatividade, desenvolvendo a sensibilidade, o senso musical, a expressão, ritmo e a compreensão sonora, percebendo assim, que as crianças usam a música espontaneamente em seu dia a dia brincando, mas com o tempo vai se perdendo este habito, é aí então que entra a musicalização para potencializar a musicalidade ou dar continuidade para um desenvolvimento mais preciso, trabalhando de maneira lúdica.

A música está ligada a vários tipos de arte, como, a pintura, teatro ou dança, entende-se assim que ela deve estar presente em todas as áreas de conhecimento desde a educação infantil, sendo adaptada ao tempo e a realidade de cada um como uma aula de ciências ou uma brincadeira fazendo parte da rotina escolar. Nas séries iniciais é comum as canções de roda, as palmas ritmadas, as pausas, soltar o corpo, movimento ou soltar a voz já faz parte do dia a dia das crianças permitindo o autoconhecimento e desenvolvendo a noção de limite corporal.

Pensar em musicalizar está associado em despertar ou desenvolver o gosto musical desde o nascimento, contribuindo do mesmo modo para a formação física e emocional do indivíduo e principalmente o estimulo da memória como atividades de exploração sonora inicialmente no convívio familiar de objetos ou sons naturais estimulando a curiosidade, observando os tipos de sons e identificando-os, trabalhando a música em cada fase da criança. O educador musical ou musicalizador pode perceber e ajudar a desenvolver essas fases:

Nos primeiros meses de vida o bebê inicia o processo de musicalização através da imitação, por brincadeiras cantadas, observando as pessoas ao seu redor, ouvindo objetos sonoros, iniciando uma forma de comunicação, estimulando o exercício sensorial e motor. (ILARI, 2002).

De um a três anos de vida, a criança adquire um maior número de sons vocais e movimentos desenvolvendo a capacidade de ouvir nas músicas trabalhadas organizadamente cantando letras simples ou através de objetos sonoros. (SOARES, 2008 E MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO, 1998).

A criança de quatro a seis anos, já consegue desenvolver as atividades musicais com mais precisão e amplitude, reproduzem ritmos simples, são capazes de explorar e identificar elementos musicais expressando seus sentimentos.  (PARIZZI, 2006).

 

2.2O papel da música na educação

 

Após toda a trajetória da história e a importância da música para o desenvolvimento da criança, pesquisas realizadas por grandes nomes apresentam cientificamente que a música estimula o cérebro e facilitando o aprendizado.

Rosa (1990) acredita que em meio à educação escolar a música pode trazer para a criança um aprendizado mais favorável,com uma função importante no desenvolvimento psicológico e cultural, proporcionando aos alunos um ambiente alegre, afinal, ao chegar à escola se canta uma canção, na hora do lanche, numa historinha ou no fim da aula, tudo se envolve música. Por exemplo, cantar uma canção depois da educação física, ou antes, de uma prova pode acalma-los reduzindo a tensão da agitação, isso pode ser atrativo para os alunos. Percebe-se que é bastante utilizado ensinar as letras do alfabeto cantando canções e trabalhar uma disciplina cantando com ritmos do momento pode ser tão mais interessante e se obter mais resultados positivos numa prova, por exemplo, ajudando a lembrar de algumas informações do que utilizar somente o quadro e o giz.

 

O período preparatório à alfabetização beneficia-se do ensino da linguagem musical quando as atividades propostas contribuem para o desenvolvimento da coordenação visomotora, da imitação de sons e gestos, da atenção e percepção, da memorização, do raciocínio, da inteligência, da linguagem e da expressão corporal. Essas funções psiconeurológicas envolvem aspectos psicológicos e cognitivos, que constituem as diversas maneiras de adquirir conhecimentos, ou seja, são as operações mentais que usamos para aprender, para raciocinar. A simples atividade de cantar uma música proporciona à criança o treinamento de uma série de aptidões importantes (ROSA, 1990, p. 21).

 

Bréscia, (2003) afirma que “[…] a música pode melhorar o desempenho e a concentração, além de ter um impacto positivo na aprendizagem de matemática, leitura e outras habilidades linguísticas nas crianças”. Dessa forma, a música desenvolve a sensibilidade, concentração, memória, coordenação motora, socialização, dentre outros fatores. De acordo com Barreto (2000, p.45), a música pode contribuir também para crianças em situações difíceis na escola, como, a inibição psicomotora, debilidade psicomotora, entre outros fatores, por isso é importante a escola se tornar um ambiente favorável ao desenvolvimento.

A música na educação escolar,pode contribuir em partes do cérebro nos fatores como sentir, ouvir, imitar, criar, perceber e refletir, sendo muito importante na formação do ser,desenvolvendo a concentração, o aprendizado da matemática, a leitura, entre outros fatores, podendo mexer com nossos sentidos e interferindo nas atitudes e pensamentos.  Vasconcellos (2013) por meio de estudos mostra que, o ensino musical ou atividades não-musicais comprovam o desenvolvimento intelectual através da audição, ativando um espaço no cérebro para guardar informações através do código sonoro.

Na visão de Penna (2012)a música pode ser trabalhada também como uma forma lúdica, esse fator torna-se favorável a qualidade de comunicação entre professor e aluno oferecendo aos alunos habilidades como: ler, escrever, falar e ouvir, sendo facilitadora do processo de ensino-aprendizagem associada à música.

Bréscia (2003) relata que a musicalização na escola é um processo de construção de conhecimento podendo oportunizar aos alunos o contato direto com a música como disciplina mesmo nas séries iniciais, trabalhando com instrumentos musicais na prática e não só nas canções ouvidas, para que possam ter conhecimento dos estilos musicais e suas origens e culturas, permitindo uma análise mais crítica sobre o tema, além de contribuir como citado antes a sensibilidade, expressão, movimento, coordenação motora, memória, criatividade, consciência corporal, movimento, entre outros.

O trabalho de musicalização nas séries iniciais, segundo Gomes (1996), além dos benefícios do aprendizado em si e desenvolvimento físico como a coordenação motora por exemplo, contribui também em fatores psíquicos como a comunicação e expressão de sentimentos e o equilíbrio emocional, refletindo em sua postura como ser em meio a sociedade.

 

2.3 A música como meio de integração do ser

 

A música sempre uniu famílias e manteve tradições, e pode-se observar que em meio a música em grupos familiares sempre esteve a alegria, participação, colaboração de todos podendo promover a sociabilidade, a expressividade entre outros. É um elemento fundamental para a formação humana. Brito (2003).

Conforme alguns estudos, percebe-se que a música tem afinidade com a saúde em termos psicológicos, nas empresas, hospitais ou escolas. Nos hospitais, por exemplo, a música tem ajudado no processo de cirurgias amenizando a ansiedade, diminuindo o estado emocional do paciente. Na Faculdade de Medicina do Centro de Ciências Médicas e Biológicas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo revela em pesquisa que a musicoterapia pode contribuir positivamente para a recuperação de pacientes com câncer e outras deficiências.

Em grupos como a de empresas, segundo a revista Uningá Review, 2017, a música pode trabalhar o social permitindo a interação e a colaboração de todos para um grupo de canto coral, por exemplo, trabalhando a melhora da respiração, ansiedade, concentração, trazendo benefícios nos resultados do ambiente, buscando aumentar a produtividade dos colaboradores. Na escola pode-se trabalhar com a música o lado social fazendo grupos de canto coral para apresentações em festas comemorativas, podendo promover também a concentração para realizar as provas, concentração no aprendizado do dia a dia escolar, a memória, a criatividade, acalmando e diminuindo a ansiedade dos alunos. E na musicalização, o canto é um excelente aliado para a aprendizagem, ajudando a equilibrar as energias, desenvolvendo a autodisciplina, socialização, promovendo vínculos.

 

2.4 A música e o desenvolvimento cognitivo da criança

 

Há anos pesquisadores vêm estudando e apontando que a música desenvolve a parte intelectual da criança e tem uma grande influência no desenvolvimento da mesma,sendo um músico autentico ou simplesmente um ouvinte apreciador da música. Nogueira (apud SHARON, 2000), comparou crianças que não estudam música e outras que estudam, estas apresentaram uma grande quantidade de massa cerebral que são responsáveis pela audição, visão e psicomotor. Assim, a criança que estuda música ou toca algum instrumento apresenta muito mais coordenação motora do que pessoas comuns, porque está trabalhando várias partes do cérebro de uma vez só como: o visual lendo a partitura, o tato executando o instrumento e audição observando se está certo ou errado.

Outra pesquisa foi realizada com crianças em desenvolvimento escolar que passaram a ouvir música clássica em nível lento, trazendo para elas uma grande diferença de aprendizado, a criança passa do nível de agitação para relaxados e mais atentos, facilitando a concentração. Nogueira(apoud OSTRANDER e SCHOEDER, 1978). Vários outros estudos foram feitos e comprovado que a música ajuda sim no desenvolvimento cognitivo da criança em fase de aprendizagem, principalmente no raciocínio lógico ou memória.

 

2.5       A música e o desenvolvimento afetivo da criança

 

Há anos a música vem se mostrando aliada ao ser humano trabalhando com as emoções. Nogueira (apoud Sandra Trehub (apoud CAVALCANTE, 2004)aponta o fato demonstrado em pesquisas que as melodias mais serenas acalmam os bebês e conforme a aceleração da música elas vão ficando mais alertas. Isso já se percebia desde muito tempo quando se cantava músicas de ninar para as crianças demonstrando afeto. Percebe-se que é na Educação Infantil a fase mais importante de se trabalhar a linguagem musical, que ao tornassem adultas percebem o quanto a fizeram bem e emocionaram-se ao lembrar.

Estudos também mostram que certos estilos de músicas causam efeito no cérebro que trazem profundas emoções alertando a mesma região que causa a euforia. Na área da saúde, desde a 2ª Guerra Mundial e em hospitais foram realizadas as primeiras experiências e foi observado que a música traz o controle da ansiedade e a recuperação dos pacientes. Daí surge o reconhecimento acadêmico consolidado na área da musicoterapia observando-se assim, que a música vem trazendo efeitos positivos e grande ajuda para humanidade, Souza (2006).

 

2.6 A música e o desenvolvimento social da criança

 

Quem não se lembra das canções de roda como “Ciranda cirandinha ou Teresinha de Jesus” trazidas por gerações e gerações em que as crianças davam as mãos para tantas outras e cantarolavam por horas? Canções que falam de amor, trabalho, tristeza preparando-as para a vida adulta. É por meio da música que a criança também se desenvolve socialmente, cantando em brincadeiras de roda aprendendo as regras e a conviver com os demais, Abramovich (1985).

Já na adolescência há músicas temáticas muito educativas para seu aprendizado. As canções que falam sobre a realidade das grandes periferias, a miséria, as drogas, que abrem oportunidade de estabelecer um diálogo em relação ao assunto, enfim, há um mundo lá fora que os jovens precisam conhecer e interpretando as músicas ela consegue entender de certa forma, o mundo e as causas que nele existe, Nogueira (2004).

É importante ressaltar que o bebê ainda sendo gerado reage aos estímulos sonoros externos, por essa razão é bom que a mãe ouça músicas calmas, cante canções de ninar, ou até mesmo pratique um instrumento musical. Após o nascimento, é bom continuar com as canções infantis e educativas nos momentos diários para tornar momentos prazerosos e estimulantes para o bebê, assim ela terá uma vivência de sensibilização musical, se envolverá melhor em meio a sociedade, e inúmeros pontos positivos benéficos para a criança crescer saudável e feliz, Nogueira (2004).

 

2.7     Breves conceitos e métodos de como ensinar música ou musicalizar

     

      Na área musical a palavra método geralmente se refere a um material bem tradicional que traz diversos exercícios sequenciais e seguida de repertórios de um determinando instrumento, em que todos são muito parecidos, com a finalidade de um domínio técnico de um fazer musical.

Segundo Mateiro e Ilari (2012), na definição da palavra método significa, organizar de acordo com um plano. Na música é representado por um conjunto de ideias, exemplos e sequencias pedagógicas com características distintas. Alguns pesquisadores e autores elaboraram ao longo de anos de estudos um material didático inovador, buscando o aperfeiçoamento das aulas e entendimento dos alunos, propondo um novo desenvolvimento da prática da educação musical, ampliando a ideia de que a música deve ser ensinada à todos fugindo dos modelos tradicionais. Vem surgindo, então uma reorganização de conteúdos que envolve a questão metodológica de como ensinar. Segue alguns deles:

            – Émile Jaques Dalcroze: teve ideias inovadoras surgiram na primeira metade do século XX, relacionando a educação musical ao movimento corporal, que visa a musicalização do corpo estudando os elementos musicais, propondo em suas metodologias o estímulo do desenvolvimento da pessoa física, intelectual e social. E também no aspecto musical o ritmo, solfejo e improviso.

– Edgard Willems: este contribui para a educação musical no início do século XX, a base essencial para a educação musical para ele era escuta, uma proposta feita para crianças a partir dos três anos de idade estabelecendo relações entre som e natureza humana, chamando de princípios psicológicos.

– Zoltán Kodály: pedagogo musical durante o século XX, sua proposta na educação musical era expandir para todos, metodologia voltada para audição e solfejo dando importância as experiências musicais anteriores do aluno, visando a cultura de cada um. Em seu conceito, a música deveria ser ensinada e praticada na escola tornando parte da vida do cidadão assim como a alfabetização. Para ele a alfabetização musical é a junção da linguagem da música tradicional e o pensar, ouvir, expressar ler ou escrever. Kolály defendia uma educação musical que tornasse parte da vida do ser humano, e não como um meio de ganhar a vida atuando como profissionais.

– Carl Orff: sua metodologia também surgiu por volta do século XX, era marcada pelo movimento, da mesma forma para o campo do teatro, voltada à combinação de música e dança, trabalhando com o ritmo da fala, instrumental e criação em grupo.

– Shinichi Suzuki: o método Suzuki, criado na década de 30, baseia-se, partindo do seu talento inato, no aprender a língua e um instrumento musical, que não é de uma forma de genética, e sim despertado na criança desde bebê na forma de imitação, a memória e estimulando a execução por consequência de um estudo sistemático e consecutivo. Ele defende a ideia de que toda criança pode aprender música desde que o ambiente o qual ela vive sirva de estímulos contínuos.

 

  1. A OBRIGATORIEDADE DA MÚSICA NO CURRÍCULO

 ESCOLAR

 

Desde a vinda dos Jesuítas em 1549, foram criadas escolas e catequeses, a cartilha musical em 1759 chamada Artinha, várias culturas se misturaram. Mas o que se entende sobre currículo? O que ensinar? Como ensinar? Para que ensinar? E quando ensinar?

A partir dessas questões surgem vários posicionamentos em relação ao currículo. O currículo vem se transformando de acordo com cada época, no século XIX, por exemplo, o currículo era tido como um instrumento de controle social num processo de racionalização de resultados educacionais, onde as finalidades da educação eram dadas pela vida ocupacional adulta. (MOREIRA; SILVA, 2001; SILVA 2007)

A busca pela definição de currículo vem sendo conceituada por muitos estudiosos com diferentes concepções apresentadas pela literatura e esta palavra vem assumindo desde sua emergência como principal objeto de estudo da Sociologia da Educação até o sentido que lhe é dado hoje. ( MOREIRA ; SILVIA, 2001 ; SILVIA, 2007)

Segundo o modelo de Pedra (1992, p.03) ao analisar a literatura atual o currículo é classificado da seguinte forma : a) como resultados esperados : Currículo é uma série de estrutura de resultados buscados na aprendizagem ; b) como conjunto de experiências sob o comando da escola : Currículo são todas as experiências que os estudantes desenvolvem sob a tutela da escola ; c) como princípios essenciais de uma proposta educativa : O currículo é um intento de comunicar os princípios essenciais de uma proposta educativa de tal forma que fique aberta ao exame crítico e possa ser traduzida efetivamente para a prática.

Considerando o significado da palavra currículo, movimento progressivo, percebe-se que até hoje não houve alteração profunda, havendo sim variações no vocábulo. É difícil esquematizar de forma coerente as funções e formas adotadas pelo currículo considerando as diferentes visões de cada sistema educativo. Moreira (2001) afirma que mesmo com a crescente valorização deste campo ainda não há um consenso do que se deve entender pela palavra currículo.

O desenvolvimento do currículo no Brasil pode ser compreendido por diferentes pesquisas e a ampliação e diversificação deste campo de estudos no Brasil é crescente e regular, contudo, os especialistas consideram que o campo do currículo no Brasil desfruta hoje de visibilidade e prestígio crescentes. Segundo eles, isso se deve tanto as  recentes discussões sobre políticas oficiais de currículo, quanto ao desenvolvimento de pesquisas e de uma relevante produção teórica que atualmente aborda novos temas e reflete novas influências, tais como orientação sexual e pluralidade cultural. (MOREIRA, 2001;)

Em várias civilizações foi acrescentado artes no currículo escolar. Nessas civilizações, a música sempre foi um componente curricular importante, acompanhada pela literatura que historicamente vem se afirmando desde produção de pintura, teatro ou músicas na rotina escolar. Na Grécia antiga a música era um componente curricular tão importante como a leitura e a literatura. Na Idade Média também se verifica tamanha importância atribuída a música, SIMÕES (2016).

O Ensino da Arte no Brasil mostra que em vários momentos, a Arte era dada a uma camada dominante para deixar evidente as diferenças de classe ou para atender as necessidades da indústria e da ciência. Assim, entende-se como os espaços de tempo são organizados na escola com interesses diferentes, que marcam a história da Arte no espaço escolar e a própria história da escola. (CARVALHO, 2005)

Segundo Carvalho (2005) no Brasil, os currículos escritos não eram de fato colocados em prática na escola. Como por exemplo a autora cita o currículo do período Imperial, onde as aulas de desenho e música eram obrigatórias na primeira fase escolar, mas essa obrigatoriedade só fica registrado no papel, porque esses ensinamentos não eram realizados. A partir desses fatos, Carvalho (2005) questiona : O que acontece nas escolas de hoje é o que de fato está registrado nos documentos oficiais ?

Desde o descobrimento do Brasil, o ensino de Arte passou por vários momentos e tendências, sendo vinculada à situação política, social e ideológica de cada época. Mas, como vem se organizando a Arte no currículo escolar do Brasil após a promulgação da Lei nº 4.024/61 até a atual Lei nº 9.394/96?

Em 1960, segundo (FERRAZ ; FUSRI, 1993, p. 37) desenvolveu-se no Brasil uma nova tendência pedagógica tecnicista formada por : objetivos, conteúdos, estratégias, técnicas e avaliação, que visava um acréscimo de eficiência da escola, tanto em nível médio quanto em superior.

Com essas novas tendências foi sancionada em 20 de dezembro de 1961 a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 4.024/61, Lei esta que estabeleceu uma nova estrutura para os currículos do primário e ensino médio.

A Lei citada acima, apresenta em seu texto nos Art. 38, inciso IV, do capítulo I, Título VII, a Arte como mera atividade complementar, sem deixar claro quais seriam os aspectos abordados na iniciação artística, COSTA (2011).

 

Título VII – Da Educação de Grau Médio

Art. 38 – Na organização do ensino do grau médio serão observadas as seguintes normas:

IV – Atividades complementares de iniciação artística. (CORRÊA, 2007)

 

Nessa mesma época foi criada a Universidade de Brasília, ainda com uma política voltada para o desenvolvimento, se destacou por ter como maior característica um modelo de ensino humanista voltado para a arte e para a cultura, COSTA (2011).

Por conta da política, a ditadura iniciada em 1964, muitos professores foram perseguidos e as escolas experimentais foram fechando as portas. Em 1965 houve o primeiro encontro de Arte/Educação em uma universidade brasileira. E por volta de 1969 a arte foi inserida no currículo escolar, mas, somente nas escola particulares, enquanto que nas escolas públicas não se encontrava esse trabalho.

A partir da Lei nº 5692/71 criada em 11 de agosto de 1971, estabeleceu um novo conceito de ensino de Arte – tornando obrigatória o que se passou a ser chamado de Educação Artística no 1º e 2º graus. Essa Lei inclui a área de Comunicação e Expressão, Língua Portuguesa, Educação Física e a Língua Estrangeira Moderna, COSTA (2011).

No ano de 1973 o governo criou cursos de Educação Artística nas Universidades para capacitar o professor a desenvolver música, teatro, artes visuais, desenho e outros. Nos anos 80, com a redemocratização no Brasil, surgiram novas reflexões em relação ao ensino de Arte. Já em 1988, foi retirada a obrigatoriedade do ensino de Arte nas escolas, dessa forma, os  educadores se reuniram para protestar alegando a importância da Arte para a formação dos alunos. A partir daí, iniciou-se uma uma longa luta política para o retorno da obrigatoriedade da Arte como disciplina no currículo escolar, COSTA (2011).

Anos depois, em 20 de dezembro de 1996, os educadores em Artes conseguiram conquistar a obrigatoriedade do ensino de Arte para a educação básica, por meio da Lei nº 9394/96.

 

Art. 35 – O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, para desenvolver a criatividade, a percepção e a sensibilidade estética, respeitadas as especificidades de cada linguagem artística, pela habilitação em cada uma das áreas sem prejuízo de integração das artes com as demais disciplinas. (COSTA, 2011, apoud SAVIANI, 2008, P. 32)

 

Ao longo dos anos, mesmo com a obrigatoriedade da Educação Artística, percebe-se que ainda hoje não existem profissionais especializados suficientes que possam dar conta de todas as áreas específicas apresentadas na Lei nº 9394/96 para suprir as necessidades : Artes Visuais, Dança, Música ou Teatro.Ainda existem profissionais despreparados e poucos com habilitação específica para o ensino.

Falando especificamente no ensino da música nas escolas, em 18 de agosto de 2008, a Lei nº 11.769/08 sendo alterada, foi sancionada, com o ensino da música obrigatório, tornando a formação do professor indispensável, LIMA (2012).

 

Segundo a LDB Artigo 62  “A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos 5 (cinco) primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio na modalidade normal.”

 

A LDB é clara, mesmo assim, com a conquista da obrigatoriedade ainda se tem muitas dúvidas sobre sua aplicação. Há indagações sobre quem vai administrar as aulas de música ou qual é a formação exigida para o ensino da Música na Escola com tão poucos profissionais?

 

 

3.1 Os desafios da educação musical no município de Uruará

 

A música como disciplina inserida no currículo das escolas ainda hoje é um termo distante e desprovido de apoio e informações, para uns a música é inserida apenas como meio de divertimento, recreações ou festas. Assim, a música na maioria das vezes sempre fica em segundo plano, ou é executada por um professor de Educação Artística ou qualquer outro professor de outra disciplina.

Enquanto algumas escolas de cidades consideradas interiores desempenham a prática musical de maneira treinada, outras duas escolas de rede pública do município de Uruará no estado do Pará, em uma pesquisa realizada com doze professores pedagogos, mas que ministram artes,do ensino fundamental menor, nem um dos entrevistados tem se quer formação, curso de capacitação ou experiência na área musical e muitos desconhecem a importância da música na sala de aula. Cerca de 70%dos professores formados em pedagogia, sabem da obrigatoriedade do ensino musical na grade curricular no ensino básico, porém relatam a carência de estrutura e materiais para as aulas práticas, a falta de conhecimento e apoio com oficinas de educação musical, o que torna mais difícil conduzir e implantar o tema com os alunos de forma satisfatória.

Em uma análise geral, percebe-se que o ensino da música é escasso e ao mesmo tempo desafiador para os docentes do município de Uruará, a ausência de apoio pelos gestores e administradores os deixam acomodados e não dão a devida importância ao ensino musical.

Por outro lado, com a insegurança e despreparo dos docentes das escolas regulares, o município conta com o apoio de uma Escola de Música pública desde o ano de 1999 que tem por nome Escola Municipal de Música Diego Cotes de Moraes, atende cerca de quatrocentos alunos anualmente,e oferecem para as crianças e jovens cursos de musicalização com flauta doce, violão, teclado, percussão e banda, com recursos e instrumentos da própria escola de música. E conta com um corpo docente de pedagogos capacitados na área musical tanto como regente de banda, músicos, monitores e musicalizadores,além das aulas teóricas. Mesmo com a pequena estrutura física, não suportando tamanha demanda de alunos de todo o município, a escola de música é parceira direta no ensino da escola regular.

 

3.2A importância da musicalização no processo ensino aprendizagem

das séries iniciais e direcionados também a crianças portadoras de

necessidades especiais

 

Para auxiliar na construção de conhecimentos, trazer de volta a cultura num país movido pela arte da música, nos vemos diante de indagações para entendermos a importância e o significado da música na educação escolar. Para tanto, quais benefícios a música pode proporcionar no aprendizado diante o ensino-aprendizado e socialização? Que incentivos podem trazer? Que ações a música exerce para na psique e na coordenação motora da criança?

Todo ser humano gosta de apreciar um som, seja ele da natureza ou produzido por nós mesmos, qualquer tipo de som pode ser música para nossos ouvidos. Percebe-se que o som organizado pode exprimir algum sentimento de outras pessoas. A comunicação verbal é a primeira na escala comunicativa humana, é por meio da voz que os professores, locutores e outros comunicam ou ensinam, mas quando se tem a música como aliada ganha força. Porém é mais eficaz um pensamento transmitido pelo canto que pela escrita num papel, pois, a música é um som ordenado assim como é uma linguagem universal e facilita o entendimento. Por exemplo, as gerações de monges orientais, tribos de povos primitivos africanos, brasileiras, por séculos entoaram palavras que aprenderam cantando desde a infância.

A música é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio da organização e relacionamento expressivo entre o som e o silêncio. A música está presente em todas as culturas, nas mais diversas situações: festas e comemorações, rituais religiosos, manifestações cívicas, políticas etc, BRÈSCIA (2003).

A prática de associar qualquer disciplina à música sempre foi bastante utilizada e demonstrou muitas potencialidades como auxiliar no aprendizado. Barreto (2000) (apud Brèscia (2003)) destaca que “[…] a música pode melhorar o desempenho e a concentração, além de ter um impacto positivo na aprendizagem de matemática, leitura e outras habilidades linguísticas nas crianças”. Porém grande parte dos sistemas educacionais vem esquecendo sua aplicação na prática de ensino, mesmo assim ainda há por parte de poucos professores isolados e de maneira inadequada, mas apreciam e valorizam a música como ela merece.

Dessa forma, antes da aplicação de qualquer atividade, o professor tem que gostar de música, terá que ouvir todos os tipos de músicas e variados ritmos deixando de lado também os preconceitos, assim formará sua opinião a respeito e saberá separar o material adequado para si e para o aprendizado de seus alunos. A música deve ser usada para ensinar e não para atormentar e seu valor verdadeiro dentro de uma sala de aula, é preciso que os esforços dos alunos sejam estimulados, deve ser um elemento auxiliar na formação do indivíduo.  É possível também despertar nos alunos a sensibilidade mais aguçada na observação de questões próprias à disciplina estudada, BARRETO (1992) (apud SNYDERS).

É preciso que o professor se dedique aos estudos da música, compreendê-la em sua amplitude, se for possível até praticá-la, isso ajudará seu domínio em sala de aula e terá mais discernimento para elaborar trabalhos mais bem adaptados à realidade de seus alunos. Por tanto, utilizar a música em sala de aula ou em seu cotidiano harmoniza a vida das pessoas e é por isso que sempre damos razão à antiga frase: “quem canta, seus males espanta”. Cantar é vibrar, e vibrar é viver.

Os seres humanos, a vida e tudo que cerca a todos, podiam ser considerados como música, pois simplesmente estamos inseridos numa “estrutura musical”, somos essencialmente musicais, ou seja, os batimentos cardíacos, o piscar de olhos, os sons, as vibrações, as ondas sonoras, tudo acontece num tempo e num espaço, o corpo vibra e a matéria toda vibra à sua volta. Fazemos parte de uma organização de vibrações chamada natureza.

Compreender a combinação de fonemas para chegar às palavras, ou átomos para chegar às moléculas, o mesmo vale para a música combinando sons que chegando a algum resultado pode ser agradável ou não aos ouvintes. A música além da arte de combinar os sons ela também é uma forma de interagir com o outro, do mesmo modo as células quando combinadas adequadamente seu resultado é um tecido ou organismo.De acordo com Barreto (apud Gainza 1988), os aspectos musicais correspondem a algum aspecto humano, mobilizando-o com exclusividade, como exemplo: o ritmo corresponde o movimento do corpo, a melodia estimula a afetividade, a harmonia corresponde a ordem musical e mental do homem.

A combinação sonora é utilizada constantemente como suporte para a memorização e para o aprendizado de qualquer coisa em nossa vida. Por ser uma arte antiga e particular, a música passou a ser estudada pelos cientistas durante a evolução da humanidade, e tais aspectos demonstraram em que medida ela era uma disciplina que envolvia referenciais de outra disciplina. Assim, diversos estudiosos provaram por meio da música aquilo que afirmavam dentro da área em que atuavam. Percebe-se que a música tem uma relação íntima com disciplinas como, arte, língua, história, matemática, física, biologia, psicologia, sociologia, religião etc., e é óbvio que se trabalhadas junto com a música levarão certa vantagem e melhor desenvolvimento dos trabalhos.

Para Guilherme (2006);

 

“A música é um dos estímulos mais potentes para ativar os circuitos do cérebro na infância. Os estudos atuais apontam que a janela de oportunidade musical, ou a inteligência musical, abre-se aos 3 anos e começa a se fechar aos 10 anos”(p. 158).

 

 

Assim sendo, essa faixa etária torna-se o momento ideal para que ocorram os primeiros estudos musicais por meio do processo de musicalização com as crianças. De acordo com Joly (2003):

 

A criança, por meio da brincadeira, relaciona-se com o mundo que descobre a cada dia e é dessa forma que faz música: brincando. Sempre receptiva e curiosa, ela pesquisa materiais sonoros, inventa melodias e ouve com prazer a música de diferentes povos e lugares. (p. 116).

 

 

É por meio de brincadeiras com objetos sonoros, imitando com sua voz o que ouve que a criança irá descobrir categorizar e dar significado aos sons e ao mesmo tempo compreender os sons de sua cultura. Para as crianças, a música deve ser apresentada de forma lúdica. Ao apresentarem os elementos básicos, o professor poderá oferecê-las, por intermédio dessa recreação, conhecimentos básicos de música como: ritmo (utilizando o relógio, os pingos da chuva) altura (agudo, médio, grave), intensidade (forte, fraco) e timbre do som (a característica de cada som, o que nos faz diferenciar as vozes e os instrumentos); duração dos valores proporcionais (longo curto). Uma compreensão dos símbolos que representam à música. A criança brinca voltando-se para aquilo que faz apelo ´à sua atividade lúdica e a sua sensibilidade. O brinquedo musical liberta e afirma, socializa, equilibrando e fortalecendo sua personalidade.Com tudo, VASCOCELLOS (2018), destaca a ligação entre instrução musical na infância e o crescimento intelectual, ajudando as crianças que são instruídas musicalmente a assimilarem as disciplinas escolares com mais eficácia do que as não instruídas.

Essa “recreação” pode acontecer com brincadeiras, jogos, histórias, danças, bandinha rítmica (conjunto de percussão), canto e movimentos corporais. E através da improvisação de ritmos e melodias, o aluno desenvolve sua criatividade. O primeiro passo objetiva estimular a socialização das crianças. Para isso, canções que faz parte de sua herança musical são utilizadas como, por exemplo, Ciranda cirandinha e Marcha soldado.

A criança começa a ter contato com a música desde o ventre de sua mãe, nas canções de ninar e no ambiente escolar, pois é nessa fase que ela constrói os saberes que irá utilizar para o resto de sua vida.Gordon (2000) ressalta que:

 

Através da música, as crianças aprendem a conhecer-se a si próprias, aos outros e à vida. E, o que é mais importante, através da música as crianças são mais capazes de desenvolver e sustentar a sua imaginação e criatividade ousada. Dado que não se passa um dia sem que, duma forma ou doutra, as crianças não ouçam ou participem em [sic] música, é-lhes vantajoso que a compreendam. Apenas então poderão aprender a apreciar, ouvir e participar na música que acham se boa, e é através dessa percepção que a vida ganha mais sentido. (p. 6).

 

Na escola pode-se trabalhar o corpo tornando-se um aliado no processo de ensino aprendizagem musical, proporcionando por meio dos diferentes movimentos oportunidades para o aprendizado. Por meio desse recurso podemos desenvolver atividades que envolvam a percepção e interiorização do ritmo, intensidade e altura, trabalhar com a forma musical e também desenvolver a expressividade das crianças.

Para GOMES (1996), o ensino de música nas escolas pode contribuir não só para a formação musical dos alunos, mas principalmente como uma ferramenta eficiente de transformação social, onde o ambiente de ensino e aprendizagem pode proporcionar o respeito, a amizade, a cooperação e a reflexão tão importantes e necessárias para a formação humana. Contudo, nas aulas de música em grupo pode ser trabalhados aspectos como, por exemplo, o respeito pelos colegas, a cooperação que as atividades realizadas em coletivo exigem e a união da turma na busca de alcançar objetivos que sejam comuns a todos, como por exemplo, cantar e dançar em roda ao mesmo tempo, sem esquecer das habilidades estéticas e artísticas, o desenvolvimento da imaginação e criatividade, desenvolvimento cognitivo, efetivo e psicomotor, desenvolvimento de comunicação, sensibilidade, dentre outros.

A música na vida do ser humano é tão importante, por ser um elemento que auxilia no bem estar das pessoas. A criança aos poucos vai formando sua identidade, percebendo-se diferente dos outros e ao mesmo tempo buscando integrar-se com os outros. Nesse processo a auto-estima e a auto-realização desempenham um papel muito importante. Através do desenvolvimento da auto-estima ela aprende a se aceitar como é, com suas capacidades e limitações.No contexto escolar a música tem a finalidade de ampliar e facilitar a aprendizagem do educando, pois ensina o indivíduo a ouvir e a escutar de maneira ativa e refletida. A criança que consegue desenvolver pouco a pouco a apreciação sensorial aprende a gostar ou não de determinados sons e passa a reproduzi-los e a criar novos desenvolvendo sua imaginação, MÁRSICO (1992).

A música afeta o corpo do indivíduo de duas formas: diretamente, com o efeito do som sobre as células e os órgãos, e indiretamente, agindo sobre as emoções, que apresentam numerosos processos corporais provocando a ocorrência de tensões e relaxações em várias partes do corpo. A música é um elemento de fundamental importância, pois movimenta, mobiliza e por isso contribui para a transformação e o desenvolvimento, GAINZA (1988).

As atividades musicais oferecem várias oportunidades para que a criança aprimore sua coordenação  motora, aprenda a controlar seus músculos e mova-se com desenvoltura. O ritmo tem um papel importante na formação e equilíbrio do sistema nervoso. Isto porque toda expressão musical ativa age sobre a mente, favorecendo a descarga emocional, a reação motora e aliviando as tensões. Qualquer movimento adaptado a um ritmo é resultado de um conjunto completo de atividades coordenadas. Por isso atividades como cantar fazendo gestos, dançar, bater palmas, pés, são experiências importantes para a criança, pois elas permitem que se desenvolva o senso rítmico, a coordenação motora, fatores importantes também para o processo de aquisição da leitura e da escrita.

Segundo Associação Brasileira da Música, ABM (2002, p.16), para que o cérebro desenvolva todo o seu potencial, são necessários estímulos, agindo diretamente em suas centrais de comunicação. Na infância, este conjunto de estímulos proporcionam o desenvolvimento das fibras nervosas capazes de ativar o cérebro e dotá-lo de habilidades. Ainda de acordo com a ABM, destaca a importância da música para crianças, já que a música por si mesma aumenta as funções cerebrais superiores, os estudos indicam que o treinamento em música gera as conexões nervosas que são usadas para entender os conceitos matemáticos, e aulas de música na infância fazem o cérebro crescer e quanto mais cedo começar o treino musical, maior a área do cérebro.

Para as crianças portadoras de necessidades especiais não é diferente. Segundo Birkenshaw-Fleming (1993) há diferentes formas e observação que podem ajudar de crianças especiais no ensino aprendizagem. Quanto mais conhecimento o professor tem sobre o estudante, melhor é o ensino e maior é a sua segurança para ajudar no desenvolvimento dos alunos. O professor deve pesquisar sobre as possibilidades de desenvolvimento de seus alunos e deve conhecer as limitações e dificuldades de cada um deles. Isso se deve a entrevistas com os pais, professores, coordenadores, diretores e outros profissionais da área.

Para Birkenshaw-Fleming (1993) o excesso de proteção por parte de pessoas que convivem com a criança nem sempre corresponde com aquilo que ela realmente necessita. É importante procurar perceber as potencialidades de cada um. Todo o trabalho deve ser feito com paciência e carinho, lembrando-se de que é preciso valorizar a autoestima de cada aprendiz, motivando-o a reconhecer sua contribuição frente ao grupo em que está inserido.

Birkenshaw-Fleming (1993) aponta alguns possíveis benefícios que as aulas de música podem proporcionar aos indivíduos com necessidades especiais:

  • Se o professor faz com que o aluno realize algumas atividades com sucesso, possivelmente vai reforçar a sua autoestima. Ele obtém isso, respeitando as limitações e possibilidades de cada um. É importante, fazer com que o aluno participe de todos os procedimentos de aula, de maneira que suas realizações se transformem numa experiência válida. Todos devem ser encorajados a dar o melhor de si e serem independentes, tanto nas atividades musicais como em qualquer outra atividade do seu dia-a-dia.
  • É possível estimular a interação social por meio de atividades musicais, que possibilita ao indivíduo sair de um possível isolamento.
  • O desenvolvimento do tônus muscular e da coordenação psicomotora pode ser estimulado por meio de atividades que envolvam movimento associado à música.
  • O desenvolvimento da linguagem pode ser estimulado por meio de atividades musicais tais como parlendas, trava-línguas e pequenas canções.
  • Da mesma forma, pequenas canções e exercícios rítmicos e melódicos podem desenvolver a capacidade auditiva, intelectual e o desenvolvimento da memória.
  • Por meio de um programa de educação musical bem estruturado e com objetivos bem definidos é possível promover o desenvolvimento físico, intelectual e afetivo da criança com necessidades especiais.

 

Segundo estudos científicos o lado esquerdo do cérebro é a parte racional, quando se estuda matemática, química, física e outras, é essa área que assume o controle das informações. O lado direito é a parte sensorial, quando se ouve música, dança e etc, é nessa área que tem o controle e devem-se desenvolver as duas habilidades racional e sensorial. GARDNER (1995)destaca que a inteligência é herança genética, independente da educação cultural, sendo necessário estímulos para desenvolve-la e desperta-la para uma determinada atividade.  Em 1985 HOWARD GARDNER lançou uma de suas teorias das múltiplas inteligências no livro chamado The Mind’s New Science: A History of the Cognitive Revolution (tradução para o português: A nova ciência da mente: uma história da revolução cognitiva). Aprender música é um exercício que utiliza o cérebro por inteiro que aumenta a inteligência humana com habilidade para reconhecer sons, gosto pela música ou praticar um instrumento. Quando se ouve música desperta o lado sensorial e ao aprender música teoricamente desperta o lado racional e sendo acompanhado da pratica instrumental despertará os dois lados tendo assim um cérebro mais ativo, mais forte e mais ágil potencializando todas as áreas do pensamento humano.Aprender música para as crianças parece uma brincadeira, mas para a educação é um assunto muito sério.

 

 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Considerando toda a trajetória histórica da música no ensino escolar relatada neste trabalho, vários especialistas e pesquisadores citados no decorrer desta pesquisa mostram que a música ajuda no desenvolvimento do aprendizado, e está ligada ao ser humano desde muito cedo, mostrando que este ensino desperta, estimula e desenvolve diversos aspectos, apesar de alguns professores ainda não acreditarem nesse aspecto. Mas, muitos não perceberam que a música como disciplina ou mesmo na educação artística além de dar prazer estético, estimula à imaginação, a criatividade, a capacidade de sentir, observar e refletir. Aspectos estes essenciais nas salas de aula no mundo de hoje. Mas, mesmo após tantas pesquisas comprovadas cientificamente em relação aos benefícios da música no desenvolvimento infantil e ensino-aprendizado do ser, por que as escolas não a utilizam mais? Por que a obrigatoriedade no currículo escolar não é praticada com rigor?

Observa-se que há anos vem se discutindo sobre a educação musical no currículo escolar, mas sem grandes preocupações. Desde a criação da primeira Lei nº 4024/61 a Arte vem sofrendo certo preconceito sendo pouco valorizada até nos dias de hoje. Mesmo assim, após muitos anos de luta, a disciplina de Artes não poderia ficar somente na Lei e sim colocada em prática, para isso, é necessária a formação e capacitação de professores, e espaços físicos adequados para as aulas. Como hoje são poucas as escolas que atendem devidamente a essas necessidades, ainda há carências, encontramos professores despreparados que lecionam suas aulas de arte copiando conceitos prontos dos livros didáticos e deixando de lado a musicalização em si por falta até mesmo de experiência.

Nesse contexto, percebe-se que ainda há muito que se fazer. Acredita-se mesmo em meio tantas dificuldades que a formação do professor seria o mais adequado para lecionar a disciplina de artes e em especial a de musicalização ou educação musical, valorizando a cultura de cada um e seus interesses pessoais.

 

 

REFERÊNCIAS

 

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ANGOTTI, M. (Org.) Educação infantil: Para quê, para quem e por quê? Campinas: Editora Alínea, Cap. 9.

 

BARRETO, Sidirley de Jesus. Psicomotricidade:educação e reeducação. 2. ed. Blumenau: Acadêmica, 2000.

 

BARBOSA, Ana Mae. Arte Educação no Brasil: do modernismo ao pós-modernismo. Revista Digital Art& – Número 0 – Outubro de 2003. Disponível em <http://www.revista.art.br/site-numero-00/anamae.htm>. Acesso em 30 de novembro de 2018.

 

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BIRKENSHAW-FLEMING, L. Music for all: teaching music to people with special needs. Toronto, Canadá. Gordon Thompsom Music, 1993.    Edição : 2003 – Vol. 28 – Nº 02.

 

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* Karine Rodrigues Von Groll, pedagoga, educadora musical, pós graduada em Musicalização Infantil.

 

 

 

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