Aspectos Neuropsicológicos da Psicomotricidade

Os aspectos neuropsicológicos da psicomotricidade é uma abordagem apresentada à partir dos estudos de H. Wallon.  Foi um dos primeiros a se interessar pela organização neurológica e a organização da motricidade. Como médico que participou ativamente das duas guerras mundiais, observou o as lesões orgânicas e seus reflexos sobre os processos psíquicos, as profundas perturbações de comportamento em crianças internadas em serviços psiquiátricos o que lhe fez publicar ” A criança perturbada”. Criou o laboratório de psicologia da criança e realizava estudos sobre a evolução do pensamento da criança.

Wallon também participou da resistência durante a segunda guerra onde valorizavam a questão humana. Foi responsável pelo plano de educação da França. Suas observações e estudos o levaram a concluir que são as condições de existência do homem que proporcionam a base material para seu desenvolvimento, são de ordem fisiológica e social. A teoria Psicogenética ou Psicologia da Genética de H. Wallon é o estudo de como se forma e se transforma o psiquismo. Diz respeito às transformações que ocorrem no processo de desenvolvimento. Ela apresenta:

Integração organismo-meio: O desenvolvimento está ligado às condições orgânicas e ao meio do qual a criança recebe os motivos de suas reações e maturação orgânica e o exercício funcional

Integração cognitiva-afetiva-motora onde os comportamentos de uma pessoa, num dado momento,são resultantes das configurações formadas a partir das interações entre dimensões cognitivas/afetivas/motoras que compõem a pessoa, de forma integrada e indissociável. Essas dimensões são vinculadas entre si, e suas interações em constante movimento.

Análise comparativa genética multidimensional: Análise do fenômeno, que é um conjunto que só pode ser entendido com outros conjuntos, é feita em suas várias determinações: orgânicas, neurofisiológicas, sociais e as relações entre esses fatores, multidimensionais.

As aprendizagens que recebemos durante nosso desenvolvimento nos diferenciam dos outros seres humanos. “O meio é complemento indispensável da função, pois, sem ele, a função permaneceria virtual ou atrofiada”(Wallon).

A maturação orgânica é o processo pela qual os vários reflexos herdados filogeneticamente são inibidos ou integrados a sistemas mais complexos, durante o desenvolvimento do organismo, conforme seu plano ontogenético. Ela representa paralelamente as novas possibilidades que o desenvolvimento do organismo coloca a disposição da pessoa, surge o exercício funcional, cujo o objetivo é desenvolver essas novas funções para conseguir o efeito que deseja. Todas as ações e situações dependem das funções. Wallon nos apresenta como seres globais: dimensão emocional, cognitiva e motora. Essas dimensões são chamadas de conjuntos funcionais e tem o mesmo valor.

O conjunto afetivo não se refere somente ao sentimento. Afetividade oferece funções responsáveis pelas emoções, sentimentos e paixões. Corresponde a afetar, ser afetado,tem origem orgânica quando interoceptiva e ligada aos músculos quando proprioceptiva. É percebida e influenciada pelos fatores externos através das sensibilidades exteroceptiva.

A emoção é o primeiro momento na evolução da afetividade. São reações instantâneas e diretas. É indissociável de suas expressões tônicas.

O sentimento é outra expressão representacional da afetividade, expressa pela mímica e pela linguagem.

Ato motor ou dimensão motora oferece a possibilidade de deslocamento do corpo no tempo/espaço, as reações posturais que garantem o equilíbrio corporal, bem como o apoio tônico para as emoções e sentimentos se expressarem.

Cognitivo ou dimensão cognitiva oferece um conjunto de funções que permitem a aquisição e a manutenção do conhecimento por meio de imagens, noções, ideias e representações. A pessoa que expressa a interação em todas as suas inúmeras possibilidades.

A teoria walloniana obriga a repensar os conceitos de emoção, sentimento, paixão, o sentido do movimento, e as funções intelectuais apresentando como conjuntos funcionais. Não podemos concebê-los de forma isolada. Se relacionam entre si. Isso apresenta um novo olhar sobre o aluno, seu processo ensino-aprendizagem, elaboração de currículo, o papel da escola e a formação do professor. Ela é dividida em estágios de desenvolvimento de acordo com a idade.

Impulsivo emocional (0 a 1 ano) tem o predomínio afetivo e motor, movimento centrípeto, para o conhecimento de si.

Sensório motor e projetivo ( 1 a 3 anos) tem o predomínio cognitivo, movimento centrífugo, para o conhecimento do mundo exterior. Ex: começar a andar; aquisição da linguagem; conhecimento do mundo exterior, entre outros.

Personalismo (3 a 6 anos) tem o predomínio afetivo e direção centrípeta. Eu sou diferente dos outros. Ex: formação da personalidade, egocentrismo, oposição ao outro, imitação, ciúmes, sedução…

Categorial ( 6 a 11 anos) com predomínio cognitivo e direção centrífuga. O que é o mundo? Ex: objetividade, formação das categorias mentais, descoberta de semelhanças e diferenças entre objetos, ideias e representações, maior concentração e atenção, maturação dos centros nervosos de discriminação e inibição, controle mais preciso dos movimentos, capacidade de prever mentalmente

Puberdade e adolescência (11 anos em diante) com predomínio afetivo e direção centrípeta. Quem sou eu? O questionamento de valores, alteração do esquema corporal, maior capacidades de abstração, completa consciência de si, noção e tempo futuro.

Essa teoria apresenta contribuições. A emoção é uma condição indispensável para o ingresso no mundo da razão e da competência humana onde se estabelece as bases da inteligência, sendo ela a base do sujeito, base para afetividade da ação pedagógica, onde se manifesta através da expressão do tônus, ou seja , uma criança não aprende sem vínculo afetivo.

Para Wallon a música tem um grande valor.Ela ajuda a alcançar o equilíbrio necessário na formação da pessoa completa e integrada, pois oferece muitas possibilidades para o desenvolvimento integral e integrado em todas as dimensões que constituem a pessoa, é interdisciplinar por natureza, sendo ao mesmo tempo forma de expressão e conhecimentos.

Por utilizar seus conhecimentos sobre a anatomia humana, torna-se possível estabelecer algumas relações entre música e movimento. Suas observações mostraram que a música no desenvolvimento integral da criança:

Induz ao movimento;

Provoca mudança na expressão da criança;

Desenvolve senso rítmico e a coordenação motora;

Organiza e traz fluidez ao movimento;

Afeta e é contagiosa;

Provoca sentimentos e lembranças;

Desenvolve a expressão e comunicação;

Desenvolve o raciocínio lógico-matemático;

Desenvolve a atenção e comunicação;

É um recurso memônico (  conjunto de técnicas utilizadas para auxiliar o processo de memorização. Consiste na elaboração de suportes como os esquemas, gráficos, símbolos, palavras ou frases relacionadas com o assunto que se pretende memorizar.)

Sendo assim, os bebês também devem ter acesso a música através da musicalização, pois ela visa contribuir para o desenvolvimento integral da criança através desta linguagem. As atividades envolvem o movimento expressivo e criativo e a participação ativa dos pais e educadores.

A musicalização para bebês de 1 a 3 anos de idade atingem os estágios: sensório motor e projetivo; movimentos; locomoção; suspensão; preensão e desenvolvimento da linguagem, contribuindo, conforme os estudo de Wallon, de forma completa no desenvolvimento infantil.

Em sua teoria, a sensibilidade exteroceptiva fornece ao próprio corpo informações do mundo exterior pelos sentidos, provenientes da região cortical do cérebro. Ouvir uma música provoca uma reação involuntária, garantindo a totalidade e a unidade do ser e o controle das dimensões motoras afetivas e cognitiva que compõe a pessoa. Assim, é impossível não apresentar uma reação ao contato com a música, bem como também é importante direcionar a teoria walloniana e a musicalização o mais cedo possível para que haja a formação integral da criança.

 

Gislaine Gomes da Silva Caitano – Compositora, Escritora, Contadora de História; Pianista; Especialização em Educação Musical; Instrumental ORFF; Canto Coral, Práticas em Grupos, Prática de Flauta Doce; Musicalização Infantil; Docente no Colégio Marista Glória, onde atua na educação infantil e fundamental; Membro Fundadora da CIA Cantos & Contos; Participou da gravação dos cd’s da Ação Comunitária E Tchibum e Saracuteia – Cantos e contos para quem ainda usa fraldas; Co autora do livro Saracuteia – Cantos & Contos para os pequenos (Bamboozinho,2018).

 

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