A Psicomotricidade na Aprendizagem e sua Relação com a Prática Psicopedagógica

Maria Celina de Mesquita[1]

Miriam Gomes Avelar de Morais[2]

 

Resumo: Este trabalho busca desenvolver um estudo sobre a Psicomotricidade como uma formação de base a toda criança, permitindo que ela se organize internamente ao conhecer o seu próprio corpo, e assim, perceber-se e ajustar-se ao meio. Nesta ação, a prática psicomotora e a prática psicopedagógica tornam-se aliadas no processo interventivo, pois ambas visam à aprendizagem e desenvolvimento das crianças de modo integral. Do ponto de vista teórico metodológico, esta pesquisa intenta contemplar as contribuições teóricas da Psicomotricidade e Psicopedagogia, com a possibilidade de favorecer a reflexão e prática quanto à importância destas áreas do conhecimento para a aprendizagem humana, principalmente na aquisição da leitura, escrita e raciocínio lógico. As informações obtidas por meio do desenvolvimento psicomotor e da organização funcional do cérebro permitirão visualizar as dificuldades de aprendizagem, suas possíveis causas para a não internalização do conhecimento, bem como o reconhecimento das estruturas básicas que levam a aprendizagem por meio do processo interventivo. Este artigo apresenta também um estudo de caso, no qual foi possível verificar entraves e dificuldades na leitura e na atenção, relacionadas a aspectos psicomotores, de uma aprendente de 11 anos, de uma escola particular na região metropolitana de Goiânia, que apresenta queixa na construção de sua aprendizagem. A metodologia aplicada caracterizou-se de forma bibliográfica descritiva, pois procurou explicar o tema abordado com base nas referências teóricas em autores como Alícia Fernandez, Maria Lúcia Weiss, Nádia Bossa, Vitor da Fonseca, Fátima Gonçalves e Gislene Oliveira.

 

 

Palavras-chave: Psicomotricidade. Psicopedagogia. Aprendizagem.

 

 

 

 

 

 

 

Abstract: This work aims to develop a study about Psychomotricity, as a base of children formation, supporting the children to internally organize themselves, having knowledge of their own body and thus perceiving themselves and adjusting to the social environment. Therefore, the psychomotor development aspects, and the Psych pedagogy practice, become allies in the intervention process as the basis of the learning process from a theoretical and methodological point of view. This research try to contemplate the tertiary contributions of Psychomotricity with the possibility of favoring reflection and practice, as to the importance it has in learning, especially in the acquisition of reading, writing and logical reasoning. The information obtained through the psychomotor development and the functional organization of the brain, together with the psychomotor and psych pedagogical action, will allow the visualization of the difficulties, their possible causes for the non-internalization and knowledge of basic structures that carry to the learning and the interventive process. This article presents a case study in which it was possible to verify obstacles and difficulties in learning related to Psychomotor difficulties. To clarify the study, we discussed the case of an 11-year-old student from a private network in the metropolitan region of Goiania, who presents a complaint in the construction of her learning. The applied methodology was characterized in a descriptive bibliographical form, as it sought to study the topic approached based on the theoretical references, in authors such as Alícia Fernandes, Maria Lúcia Weiss, Nádia Bossa, Vitor de Fonseca, Fátima Gonçalves, Gislene Oliveira.

 

 

Key words: Psychomotricity. Psychopedagogy. Learning.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Introdução

Este artigo procura investigar, analisar e compreender como se desenvolve o processo de aprendizagem na criança, de forma a contribuir para que ela se desenvolva sem tropeços, aproveitando ao máximo seu potencial cognitivo. Para atender esse objetivo, buscou-se realizar um estudo sobre as contribuições das áreas de Psicomotricidade e Psicopedagogia Clínica. O trabalho compõe-se de estudo de caso e fundamentação teórica, no que diz respeito à aprendizagem, em termos gerais, e as possíveis causas do não aprender.

Atualmente observa-se que o índice de alunos com dificuldades escolares aumenta a cada dia, muitas vezes não conseguem produzir e acompanhar a turma. Os estudos da Psicopedagogia mostram que as dificuldades de aprendizagem podem ser geradas por várias causas ou aspectos, são eles: cognitivos, afetivos, sensoriais, motores, pedagógicos, culturais e socioeconômicos. Os educadores, em sua ação educativa, muitas vezes, não conseguem lidar coerentemente com tal situação por não saberem a verdadeira causa. As duas áreas do conhecimento aqui citadas podem trabalhar estes aspectos e contribuir para que o aprendente consiga superar suas dificuldades.

Para discorrer sobre esta temática, procuramos responder alguns questionamentos: Como a Psicomotricidade, norteada pela teoria histórico-cultural, pode contribuir para a formação do indivíduo como cidadão? Como as práticas psicomotoras, aliadas às práticas psicopedagógicas, atuam no desenvolvimento humano e na aprendizagem? Como a prática psicomotora pode contribuir na melhoria da leitura e escrita?

Para elucidar tais questões, este artigo visa aprofundar acerca do conhecimento sobre os significados que a Psicomotricidade e a Psicopedagogia trazem e também suas contribuições para a Educação escolar.

Por acreditar que através do movimento a criança organiza melhor o seu próprio esquema corporal, percebendo-se a si mesma, o outro e o meio em que está inserida, adquirindo assim, novas aquisições intelectuais, é que se pretende analisar a importância da Psicomotricidade no processo de ensino-aprendizagem.

Estudos comprovam uma inter-relação entre a Psicomotricidade e Psicopedagogia. Esta última visa, por meio de seu arcabouço teórico, compreender a aprendizagem humana, bem como os obstáculos que interferem nesse processo, os quais comprometem o aprender. Além disso, propõe apreender a forma como o sujeito constrói conhecimento. Já a primeira, a Psicomotricidade, busca, por meio da ação motora, estabelecer um equilíbrio entre a organização motora, cognitiva e sócio-afetiva desse ser (GONÇALVES, 2012). Ambas as aréas do conhecimento consideram o sujeito em sua totalidade.

A Psicopedagogia é facilitadora, mediadora na construção da aprendizagem, tendo como objeto de estudo,

(…) o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as realidades interna e externa da aprendizagem, tomadas em conjunto. […] Procurando estudar a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão implícitos (NEVES apud BOSSA, 1994, p.29).

Atualmente, a Psicomotricidade tem sido enfatizada por Vitor da Fonseca (2008, 2012), Fátima Gonçalves (2012) e Gislene de Oliveira (1992, 2003), como potencial indispensável no processo de ensino-aprendizagem. A relevância do desenvolvimento psicomotor da criança como um todo é fundamental para a construção de sua aprendizagem e esta não é construída sem o seu desenvolvimento. Há aqui uma relação dialética e indissociável. Ressalta-se ainda que a ludicidade deve ser incluída nesse processo, pois é considerada um importante instrumento na mediação do processo de aprendizagem, considerando que as crianças vivem num universo de encantamento, fantasia e sonhos onde o faz de conta e realidade se misturam, favorecendo o uso do pensamento, da concentração, do desenvolvimento social, pessoal e cultural, facilitando assim, o processo de construção do pensamento.

A Psicomotricidade existe nos menores gestos e em todas as atividades que desenvolve a motricidade da criança, visando o conhecimento e o domínio do seu corpo. Por essa razão, dizemos que esta área do conhecimento constitui-se em um fator essencial e indispensável ao desenvolvimento global e uniforme da criança. É a base fundamental para o processo intelectivo e de aprendizagem. O desenvolvimento psicomotor evolui do geral para o específico. A criança cujo desenvolvimento é mal construído poderá apresentar problemas na escrita, na leitura e no raciocínio lógico-matemático. Ou seja, poderá revelar dificuldades na direção gráfica, na distinção de letras, na ordenação de sílabas, na abstração (matemática), na análise gramatical, entre outras.

Para entendermos esta afirmação é preciso compreender como se dá o desenvolvimento psicomotor, o qual acontece num processo conjunto de distintos aspectos, são eles: motores, intelectuais, sociais, emocionais e expressivos, iniciando-se antes mesmo do nascimento e contemplando-se no decorrer das etapas de desenvolvimento.

 

  1. Psicomotricidade, desenvolvimento psicomotor e aprendizagem

A Psicomotricidade, historicamente, tem seus estudos marcados pela Filosofia, passando pela Neurologia e Psicanálise, tendo como objeto de estudo o ser humano e suas relações com o corpo. Seu início foi marcado também por estudos voltados para a patologia. Wallon, Piaget e Ajuriaguerra tiveram a preocupação de aprofundar esses estudos, direcionando-os para o campo do desenvolvimento.

Os estudos de Wallon (1925, 1966) relacionaram os aspectos motores ao afeto e à emoção. Já Piaget (1896 – 1980), foi o teórico que mais estudou as inter-relações entre a motricidade e a percepção, por meio da ampla experimentação. Preocupou-se com a relação evolutiva da psicomotricidade com a inteligência e considerou que a motricidade interfere na inteligência, antes mesmo da aquisição da linguagem. As contribuições de Ajuriaguerra (1960 – 1976) vieram consolidar as bases da evolução psicomotora, voltou sua atenção mais especificamente para o corpo, dando ênfase especial às relações, às emoções e ao movimento.

Na atualidade, podemos contar com autores como Vitor da Fonseca, Fátima Gonçalves e Gislene de Oliveira, os quais contribuem para os estudos da aprendizagem e das dificuldades de aprendizagem. Vitor da Fonseca (2008, 2012) aborda também as questões do desenvolvimento neuropsicomotor e as questões neuropsicológicas da aprendizagem.

“O conceito de Psicomotricidade ganhou assim uma expressão significativa, uma vez que traduz a solidariedade profunda e original entre a atividade psíquica e a atividade motora. O movimento é equacionado como parte integrante do comportamento. A Psicomotricidade é hoje concebida como integração superior da motricidade, produto de uma relação inteligível entre a criança e o meio, e tem instrumento privilegiado por meio do qual a consciência se forma e materializa-se.”  (FONSECA, 2012, p.14).

 

Nesta abordagem, o autor chama a atenção de como o movimento e sua expressão refletem na Psicomotricidade e na estruturação do psiquismo de cada indivíduo. Corroborando com esta análise, Gonçalves (2012, p. 85) aponta que “a estimulação psicomotora adequada vem colaborar com a aquisição desse psiquismo, pois põe a criança em jogo com o objeto, com o meio e com ela própria, criando uma comunicação corporal repleta de significados”.

A estruturação do psiquismo e o desenvolvimento psicomotor da criança, segundo Fonseca (2008, p. 386), está intimamente relacionada com o contexto sócio-histórico, por isso é uma ação tipicamente humana.

A criança, ao ser inserida em seu contexto sociocultural de forma dinâmica, se organiza e se estrutura através de mediações e interações com o outro. Ela se apropria das aquisições motoras, sensoriais, emocionais e cognitivas que vão se desenvolvendo ao longo dos anos. Com o desenvolvimento psicomotor, seu cérebro vai modificando a estrutura física em razão de seu aprendizado, e de suas experiências, realizando assim, novas conexões de acordo com as exigências do meio. Assim, é importante levar em consideração o aparato biológico individual que cada criança traz em sua carga genética, e também as experiências adquiridas pela interação com o meio em que faz parte (GONÇALVES, 2012).

Quanto ao aparato do desenvolvimento biológico, temos duas leis básicas: a lei céfalo caudal e a lei próximo distal. Na lei céfalo caudal, o desenvolvimento segue das partes mais próximas da cabeça para os pés, a criança firma a cabeça antes do tronco, os membros superiores antes dos inferiores. Portanto, ela segura a cabeça, rola, arrasta, senta, engatinha e depois fica de pé e anda. Na lei próximo distal, o desenvolvimento se dá das partes mais próximas ao eixo corporal para as extremidades. Seria, portanto, as articulações dos ombros antes dos cotovelos, estes antes das mãos e dedos que serão os últimos a se especializarem. (GONÇALVES, 2012, p.60).

Com toda esta estruturação de desenvolvimento biológico é importante que ocorra um equilíbrio, caso contrário, pode desencadear uma desestruturação no processo de aprendizagem da criança. Para Vygotsky (apud FONSECA, 2008, p. 390), a aprendizagem está sempre relacionada com o desenvolvimento, são expressões que se inter-relacionam reciprocamente, e um, não é possível sem o outro, e vice versa.

         Nesse sentido, observou-se que “[…] a aprendizagem pode ir não só atrás do desenvolvimento, não só passo a passo com ele, mas pode superá-lo, projetando-o para frente e suscitando nele novas formações” (VYGOTSKY, 2000, p. 303).

O conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal – ZDP[3] deve ser lembrado, pois atribui uma relevante importância à dimensão social da aprendizagem e do desenvolvimento individual, na medida em que os estímulos culturais do ambiente façam a interação da criança com o mundo exterior em que ela se desenvolve (FONSECA, 2008). Portanto, as condições funcionais, ideais de estimulação recebida pela criança, é que vão sustentar o seu desenvolvimento cognitivo, motor e emocional. A estimulação constante ajudará nas aquisições e processos maturacionais, lembrando que, devem ser respeitados os ritmos individuais de cada criança. “A estimulação psicomotora, se estabelece, então, como um instrumento facilitador de novas formas de comunicação e aprendizagem” (GONÇALVES, 2012, p.63).

Segundo Fonseca (2008), a aprendizagem é um processo pelo qual o indivíduo adquire informações, competências, atitudes, valores, crenças, etc., a partir de seu contato e interação cultural com grupos sociais. Desenvolve, portanto, sua inteligência. A esse respeito, Fonseca (2008) afirma que,

o desenvolvimento da inteligência é, pois, em grande medida, função do contexto social e histórico-cultural, isto é, da qualidade e do tipo de interações e mediações que os outros exercem sobre o indivíduo. Ou seja, é fruto da incorporação ou integração do que está fora ou, melhor dito, de como o extracorporal que consusbstanciam a cultura são transmitidos pelos outros mais experientes e são apropriados pelo próprio indivíduo (FONSECA, 2008, p. 40).

 

Podemos assim, perceber a importância da estimulação psicomotora para facilitar a comunicação da criança com seu mundo interno e externo. “A psicomotricidade tem o objetivo de enxergar o ser humano em sua totalidade, ela busca por meio da ação motora, estabelecer um equilíbrio entre a organização motora, cognitiva e sócio-afetiva desse ser” (GONÇALVES, 2012).

As competências trabalhadas por meio da estimulação psicomotora facilitarão o desenvolvimento da criança nos aspectos relativos à aquisição da postura, da locomoção, da manipulação de objetos e da linguagem. Fonseca (2012) definiu essas competências como bases psicomotoras ou fatores psicomotores. São estes relacionados à tonicidade, equilibração, lateralização, noção corporal, estruturação espaço-temporal e praxia global e fina.

 

  1. Organização funcional do cérebro, fatores psicomotores e aprendizagem

Para falarmos em Organização funcional do cérebro, citaremos Aleksander Romanovich Luria, um dos seguidores de Vygotsky. Luria, era russo, estudou Psicologia, foi médico neurocirurgião, pedagogo, com ampla visão da cognição, sendo pioneiro mundial em Neuropsicologia. Luria estudou os mecanismos do cérebro e seus sistemas funcionais adquiridos ao longo do processo sócio histórico da espécie humana. Traduziu o funcionamento cerebral em sistemas funcionais e os dividiu em três unidades funcionais. Cada unidade funcional desempenha uma função específica na realização das ações, porém elas são indissociáveis no processo funcional cerebral, ou seja, uma depende da maturação da outra para organizar e integrar novas aprendizagens (GONÇALVES, 2012).

Conforme Fonseca (2012), a função da Primeira Unidade Funcional, criada por Luria, é de alerta e de atenção. Está localizada no tronco cerebral (bulbo, ponte e mesencéfalo) e cerebelo; a Segunda Unidade Funcional tem a função de recepção, de integração, de codificação, de armazenamento e de processamento sensorial. Está localizada nos lobos temporais, ocipitais e parietais; e a função da Terceira Unidade é de execução motora, de planificação e de autoregulação, localizada no lobo frontal.

Ainda segundo Fonseca (2012), as bases psicomotoras referentes à Primeira Unidade Funcional são a tonicidade e a equilibração. As àreas referentes à Segunda Unidade Funcional são a lateralização, a noção corporal e a estruturação espaço- temporal, e as que são referentes à Terceira Unidade Funcional são praxias global e fina. Portanto, todas as funções motoras estão diretamente ligadas às funções cerebrais.

Percebe-se que a Psicomotricidade está imbuída nos fatores acima citados e, do ponto de vista psicomotor, existem alguns pré-requisitos para que uma criança se desenvolva e aprenda. É necessário que possua um nível de realização completa e adequada nesses fatores psicomotores. Tais fatores são assim mencionados, segundo Fonseca (2012):

A tonicidade “é o alicerce fundamental da organização da Psicomotricidade, garante, por consequência, as atitudes, as posturas, as mímicas, as emoções, etc., de onde emergem todas as atividades motoras humanas” (p.110). Está integrada à primeira unidade de Luria, e suas funções psiconeurológicas são de atenção, de alerta e de vigilância, que sem as quais nenhuma atividade mental se realizaria. A tonicidade abrange todos os músculos responsáveis pelas funções biológicas e psicológicas. Esse fator psicomotor reflete o primeiro degrau de maturidade neurológica do ser humano, pois, suporta os padrões antigravíticos e prepara a sequência ordenada das aquisições do desenvolvimento postural e do desenvolvimento da preensão (p. 128).

A equilibração é também uma condição básica da organização psicomotora, pois envolve uma multiplicidade de ajustamentos posturais antigravíticos, os quais dão suporte a qualquer resposta motora. ”A equilibração reúne um conjunto de aptidões estáticas e dinâmicas, abrangendo o controle e desenvolvimento das aquisições de locomoção” (p. 310). A equilibração tem as funções de vigilância, de alerta e de atenção, contribui com a segurança gravitacional e é sinônimo de desenvolvimento da atenção seletiva e de manutenção da função primordial do cérebro, contribuindo também na organização da função psíquica superior.

A lateralização traduz a capacidade de integração sensório-motora dos dois lados do corpo e contribui com todas as formas de orientação do indivíduo. Ela surge no final do primeiro ano de vida e se estabelece por volta dos 4 a 5 anos. É governada por fatores genéticos, porém poderá ser influenciada por treinabilidade, ou por pressão de fatores sociais. Os dois hemisférios cerebrais, direito e esquerdo, se especializam em simbólico e não simbólico. As funções da lateralidade são de recepção, de análise e de armazenamentos da informação. Quando a lateralidade não está bem definida, a criança tem dificuldade em assimilar os conceitos de direita e esquerda, pois não distingue o seu lado dominante. Pode apresentar dificuldades na discriminação visual, na direção gráfica, na noção espacial e também na caracterização de letras simétricas pela inversão do “sentido direito-esquerda”, como por exemplo, “b”, “d”, “p”, “q”, ou ainda por inversão das letras ora, aro, etc. (OLIVEIRA, 2003, p. 72).

A noção corporal “é a conscientização e conhecimento cada vez mais profundo do corpo, a criança é seu corpo, pois é através dele que ela elabora todas as suas experiências vitais e organiza toda a sua personalidade” (AJURIAGUERRA, Apud, FONSECA, 2012, p.164). O desenvolvimento de uma criança é o resultado da interação de seu corpo com os objetos de seu meio, com as pessoas com quem convive e com o mundo onde estabelece ligações afetivas e emocionais (LE BOULCH, 2001).

O corpo, portanto, é a maneira de ser da criança, e é através dele que ela estabelece contato com o ambiente, que se engaja no mundo, que compreende o outro. Todo ser tem seu mundo construído a partir de suas próprias experiências corporais. Nesse sentido, através das experiências de aprendizagem, a criança constrói seu esquema corporal e amplia seu repertório psicomotor, adquirindo autonomia e segurança (OLIVEIRA, 1992).

Uma perturbação no esquema corporal pode levar a uma impossibilidade de se adquirirem os esquemas dinâmicos que correspondem ao hábito visomotor e também intervem na leitura e escrita. Na escrita, por exemplo, pode não dispor bem e nem obedecer aos limites de uma folha, não conseguindo trabalhar vírgulas, pontos nem armar corretamente contas de somar. (OLIVEIRA, 2003, p.62).

 

A noção corporal tem como funções a recepção, a análise e o armazenamento das informações.

A estruturação espaço-temporal emerge da motricidade, da relação com os objetos localizados no espaço, da posição relativa que o corpo ocupa, enfim, das múltiplas relações integradas da tonicidade, da equilibração, da lateralização e da noção do corpo. A criança localiza a si própria antes de se localizar no espaço ou de localizar os objetos no espaço. Localiza-os em relação a si própria e, posteriormente, localiza cada objeto (FONSECA, 2012).

A estruturação espacial está relacionada à modalidade sensório-visual e tem como funções a análise, o processamento e o armazenamento das informações. A criança com problemas neste fator, pode apresentar dificuldades na discriminação visual como na discriminação de letras no sentido de cima para baixo, como, por exemplo: “b”, “d”, “p”, “q”, “n”, “u”, “ou”, “on”, bem como incapacidade em orientar-se no espaço. Para escrever é necessário que consiga situar as letras no papel, adequando-as, em forma e tamanho, ao espaço que se dispõe e que compeenda os conceitos como: perto/longe; dentro/fora; mais perto/ bem longe; atrás/à frente, embaixo/em cima; alto/mais alto (OLIVEIRA, 2003, p. 79 e 83).

A estruturação temporal está relacionada à modalidade sensório-auditiva. A criança com problemas neste aspecto poderá apresentar confusão na ordenação dos elementos, não percebendo o que é primeiro e o que é último; não situando no antes e o depois; não percebendo intervalos e nem a diferença de sons, como, por exemplo: “t”; “d”; “b”; “m”; “n”, podendo demonstrar também dificuldades no ritmo ao realizar a leitura. Pode também, não ser capaz de organizar seu tempo, pois não prevê suas atividades, demorando muito em realizar uma tarefa e não conseguindo terminar as outras (OLIVEIRA, 2003, p.103).

A Praxia Global (coordenação motora ampla) está integrada na terceira unidade de Luria, cujas funções envolvem a organização da atividade consciente e sua programação, regulação e verificação (FONSECA, 2012, p.202). É relativa à coordenação dinâmica geral e à generalização motora, que integra a postura, a locomoção, o contato, a recepção e a propulsão de objetos. Isto é, a integração sistêmica dos movimentos do corpo com movimentos do próprio envolvimento. Segundo Oliveira (2003, p.41), este fator diz respeito à atividade dos grandes músculos e depende da capacidade de equilíbrio postural do indivíduo. Refere-se também à capacidade de realizar movimentos coordenados e dissociados.

A Praxia Fina (coordenação motora fina), integrada também na terceira unidade de Luria, procura estudar na criança a sua capacidade construtiva manual e a sua destralidade bimanual como um componente psicomotor relevante para todos os processos de aprendizagem. “A preensão manual com a preensão visual são fatores determinantes na captura de informações do meio exterior, por isso grandes polos da aprendizagem sensório-motora e psicomotora” (FONSECA, 2012, p. 222). Essas informações são relevantes para este trabalho, pois pretende-se relacionar estes fatores psicomotores com a escrita.

Oliveira (2003) menciona que o desenvolvimento da escrita depende de vários fatores como: a maturação do sistema nervoso, o desenvolvimento psicomotor, a tonicidade, a lateralidade, a percepção corporal, a coordenação motora global e fina. Estes estão relacionados entre si e interagem na formação do indivíduo. Quando bem desenvolvidos na criança, ajudam-na em sua construção da aprendizagem e na superação de suas dificuldades.

 

  1. Psicopedagogia

A Psicopedagogia dedica-se ao estudo da aprendizagem humana nos diversos aspectos das relações interpessoais observando o contexto social em que o sujeito está inserido. Tem o papel de compreender as causas e as consequências que afetam o aprender desse sujeito, bem como o seu desenvolvimento sócio afetivo.

Segundo Nádia Bossa, a Psicopedagogia refere-se a um saber e a um saber fazer, às condições subjetivas e relacionais – em especial familiares e escolares – às inibições, atrasos, desvios do sujeito ou grupo a ser diagnosticado.

O conhecimento psicopedagógico não se cristaliza numa delimitação fixa, nem nos déficits e alterações subjetivas do aprender, mas avalia a possibilidade do sujeito, a disponibilidade afetiva de saber e fazer, reconhecendo que o saber é próprio do sujeito (BOSSA, 1994, p. 127).

 

A autora afirma ainda que há necessidade da escuta na atuação psicopedagógica quando salienta a percepção do inter jogo entre o desejo de conhecer e o de ignorar. Para tanto, é importante saber lidar com possíveis reações como resistências, bloqueios e sentimentos na construção da aprendizagem.

Nem sempre as causas da dificuldade de aprendizagem estão localizadas somente no aluno e professor, pois a aprendizagem e dificuldade de aprendizagem fazem parte de um processo com inúmeras variáveis que precisam ser compreendidas e cuidadas pelo professor e psicopedagogo.

O psicopedagogo, ao perceber que o aluno apresenta problemas de aprendizagem, pode verificar se suas dificuldades estão relacionadas com a sua parte motora, com o desenvolvimento psicomotor, ou mesmo com os déficits psicomotores.  Como já mencionado anteriormente, a criança cujo desenvolvimento psicomotor é mal constituído poderá apresentar problemas na escrita, na leitura, na direção gráfica, na distinção de letras (ex: b/d), na ordenação de sílabas, no pensamento abstrato (matemática), na análise gramatical, dentre outras.  Daí a relevância da Psicomotricidade e da Psicopedagogia estarem diretamente ligadas nesse processo.

A Psicopedagogia, durante uma avaliação, utiliza os elementos básicos da Psicomotricidade, com frequência de testes, que permitem investigar a forma como o sujeito instrumentaliza suas funções motoras. Esses elementos de análise permitem correlacionar os possíveis distúrbios psicomotores com características da aprendizagem (SAFRA, apud BOSSA, 1994, p. 41).

Os jogos, as brincadeiras e o brinquedo são elementos comuns na prática psicopedagógica e na prática psicomotora. Quando se recorre aos jogos, cria-se um ambiente de experiências e informações, incorporando atitudes e valores. Para que a aprendizagem ocorra de forma natural é necessário respeitar e resgatar o movimento humano, respeitando a bagagem espontânea de conhecimento da criança, seu mundo cultural, movimentos, atitudes lúdicas, criatividades e fantasias. Assim, são ferramentas utilizadas tanto na avaliação como na intervenção psicopedagógica.

De acordo com Freud (apud BOSSA, 1994, p. 85), “o jogo é uma atividade criativa e curativa, pois permite à criança (re) viver ativamente as situações dolorosas que viveu passivamente, modificando os enlaces dolorosos e ensaiando na brincadeira as suas expectativas da realidade”.

Na dinâmica psicopedagógica, o jogo abre espaço que permite a criança imaginar e fantasiar. Ao sentir necessidade de colocar em cena os objetos concretos, expressam sentimentos, reproduzem comportamentos e atitudes, fazendo os brinquedos representarem o seu mundo real.

Conforme Fernández (1991), o aprender é um diálogo com o outro. Supõe a energia desejante, o desejo de dominar. Saída da onipotência, contato com a fragilidade humana, alegria da descoberta, desprender-se, libertar-se.

Neste contexto, compreende-se que tanto a proposta de trabalho da Psicopedagogia como o da Psicomotricidade se interligam para contribuir para a aprendizagem humana. De modo que, pesquisando os processos necessários para que o indivíduo adquira novos conhecimentos, de forma satisfatória, e a partir das habilidades existentes, resolvam ou mediem os possíveis entraves no processo de aprender.

 

  1. Metodologia

O estudo de caso em análise consiste em uma pesquisa qualitativa na qual foram utilizados instrumentos avaliativos com embasamento teórico para o tratamento dos dados. O período de coleta de informações deu-se a partir do segundo semestre de 2017, durante o estágio curricular de Psicopedagogia da Faculdade Araguaia Goiânia – GO, cujo objetivo era realizar uma Avaliação Psicopedagógica na área clínica.

As sessões foram realizadas com uma criança do sexo feminino, L.L.S.S. de  11 anos, com queixa de “déficit de atenção”, no período de 04 de dezembro de 2017 a 22 de janeiro de 2018, em 09 sessões de 1 hora em média, sendo 06 sessões com a criança, 02 sessões com os pais (Anamnese e Devolutiva) e 01 sessão com a professora, na escola (Entrevista).

Foi adotado como objeto de estudo uma criança do sexo feminino de 11 anos, que cursa o Ensino Fundamental I em uma rede particular, no turno vespertino, na cidade de Goiânia – GO, por apresentar dificuldades relacionadas ao desempenho escolar. As queixas, tanto dos pais quanto da escola, referiam-se as dificuldades da aluna em Português, na leitura, interpretação, compreensão de texto e no raciocínio lógico matemático em relação às quatro operações. A criança se encontra com nível de aprendizagem aquém dos seus pares, apresentando desatenção e lentidão em suas produções.

Para iniciar o trabalho fez-se o contato com os pais/responsáveis para marcar data e hora dos atendimentos. Na sequência foram feitas as sessões de atendimento, na configuração clínica, com a utilização de alguns instrumentos de pesquisa, como:

  1. A Anamnese, entrevista que ocorre com os pais, por meio de um questionário semiestruturado, tem como objetivo acessar, conhecer a história, as particularidades numa diversidade de contextos e situações da vida regressa e atual da aprendente. Posteriormente, visa estabelecer o contrato com a família, explicar e apresentar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o qual evidencia a participação no estágio, garantindo o direito de autonomia.
  2. A EOCA, é realizada com a intenção de investigar o modelo de aprendizagem do sujeito. Para Visca (1987, p.72), deverá ser um instrumento simples, porém rico em seus resultados. Consiste em solicitar ao sujeito que mostre o que ele sabe fazer, o que lhe ensinaram a fazer e o que aprendeu a fazer, utilizando-se de materiais dispostos sobre a mesa. Esse material didático deve ser de acordo com a idade da criança.

 

  1.    As Provas Projetivas, têm como objetivo, segundo Visca (1995), verificar as significações do ato de aprender e as relações vinculares que   se     formam

com o conhecimento e as figuras de ensinante. Foram aplicados os Testes: da Família Educativa, que investiga a relação do aprendente individualmente e com seus familiares; do Par Educativo, que busca compreender que relação o aprendente possui com a figura de ensinante e de O Vínculo Consigo Mesmo, o qual aponta para as relações que o próprio indivíduo estabelece em si, em termos de emoções e percepções do mundo.

  1. As Provas Operatórias, segundo Sampaio (2012), buscam compreender o funcionamento e o desenvolvimento das funções lógicas do aprendente. Sua aplicação consiste em averiguar o nível cognitivo em que o aprendente se encontra e se há defasagem em relação à idade cronológica. Os testes utilizados foram: de Seriação; de Conservação de Massa, de Comprimento e de Líquido; de Classificação.
  2. Na visita escolar utilizou-se um questionário semiestruturado com o professor. Os autores Ghiringhello e Borges (2013) propõem que na entrevista investigue-se como a criança se comporta em sala de aula e como é seu relacionamento consigo mesma e com seus colegas. Além disso, também procura compreender, por meio dos relatos da professora, como os pais acompanham a escolaridade do filho e se participam de festividades e reuniões pedagógicas, e ainda, como a professora lida com as dificuldades apresentadas pela criança.
  3. Nas Provas Pedagógicas foram empregadas, no diagnóstico, testes de leitura de texto literário intitulado “A minha vida é uma festa”, de escrita e de Matemática.
  4. Na Avaliação Psicomotora, foi utilizada a Bateria Psicomotora de Vitor da Fonseca (2012) e teve os objetivos de avaliar a aprendente em todos os aspectos psicomotores como: tonicidade, equilibração, lateralização, noção corporal, estruturação espaço temporal e praxias global e fina, bem como de observar as dificuldades psicomotoras encontradas e relacioná-las com as dificuldades de aprendizagem apresentadas nas queixas iniciais.

Além dos instrumentos listados, também foram incorporados à pesquisa: registros pessoais, relatórios, planejamentos, leituras e conversas informais com a educanda e com a família. Posteriormente, foi elaborado o Informe Psicopedagógico e entregue aos pais e escola, com as devidas orientações.

 

  1. Apresentação, análise e discussão do caso

O caso aqui apresentado, traz como queixa que a criança “possui déficit de atenção”, observado pela professora, no início do terceiro ano do Ensino Fundamental I. Após a consulta médica, passou a usar Ritalina (0,5mg por dia), para melhorar a concentração e atenção em suas atividades. Mãe relatou que a filha era lenta “não conseguia acompanhar os colegas na escola” (SIC) e que tinha dificuldade na leitura, só compreendia a leitura quando alguém lia para ela.

O seu desenvolvimento neuropsicomotor foi normal, sem qualquer intercorrência. Sempre demonstrou independência, buscando fazer tudo com autonomia e rapidez. Quanto à saúde, a mãe apontou que a criança necessita fazer uso de óculos, pois possui astigmatismo, e coça bastante os olhos. Possui um sono tranquilo, alimenta-se bem, come de tudo um pouco.

Deu início à vida escolar aos 4 anos de idade sem problemas de adaptação. Começou seus estudos na atual escola no ano de 2010, quando demonstrou um bom desenvolvimento e já iniciou o aprendizado de algumas famílias silábicas, conseguindo ler pequenas palavras. A criança possui rotina e sempre faz as tarefas escolares com a supervisão da mãe.

Foi indicada pela instituição escolar a passar pelo processo de avaliação psicopedagógica, por apresentar desatenção e dificuldade na aquisição da leitura e na escrita. Sua atitude durante o processo de avaliação foi de interesse, motivação, extroversão e interagiu de forma positiva com a terapeuta.

Segundo Fernández (1991), modalidade de aprendizagem é a forma pela qual cada ser humano, em particular, estabelece sua relação com o conhecimento. É o modo como ocorre o processo de construção de conhecimento no interior do sujeito que aprende.

De acordo com os testes realizados verificou-se que o modelo de aprendizagem da aprendente foi o hipoassimilativo/hiperacomodativo, pois não criou algo novo, repetiu conhecimentos adquiridos anteriormente utilizando esquema de pensamento empobrecido, demonstrou falta de envolvimento com o objeto de aprendizagem e, consequentemente, com o conhecimento. Também não apresentou iniciativa durante a execução das atividades. Além disso, referente aos traços hiperacomodativos apresentou características de falta de iniciativa, obediência extrema às regras, acrítica, não questionamentos e submissão.

Segundo Weiss (2012, p.117), os testes projetivos mostram a maneira como o sujeito se percebe, interpreta e estrutura um material ou uma situação. Refletem os aspectos fundamentais do seu psiquismo. É possível, desse modo, buscar relações com a apreensão do conhecimento por meio da busca, da evitação, da distorção, da omissão, do esquecimento de algo que lhe é apresentado. Podem-se detectar, assim, obstáculos afetivos existentes nesse processo de aprendizagem de nível geral e especificamente escolar. Desse modo, na análise deste estudo de caso, a aprendente revelou um bom vínculo consigo mesma e com a família e também com situações de aprendizagem sistematizada, o que se pode considerar que há um desejo pelo processo de aprender.

Visca (1995, p. 11), afirma que a aplicação das provas operatórias tem como objetivo determinar o nível de pensamento do sujeito, realizando uma análise quantitativa para reconhecer as diferenças funcionais efetivando um estudo predominantemente qualitativo. Nesta análise, a aprendente opera com uma estrutura de pensamento em transição do estágio Operatório para o Formal. Demostrou limitações na atenção e na memória, dificultando a compreensão e a produção de textos. Embora, em suas produções, revelaram coesão, coerência e significado, entretanto, com repetições, aquém do esperado para sua faixa etária, o que pode estar dificultando o processo de aquisição da leitura e da escrita.

Quanto à aplicação das provas pedagógicas relacionadas à leitura e a escrita, Ferreiro e Teberosky (1991) descrevem que o aprendiz deve formular hipóteses a respeito do código, percorrendo um caminho que pode ser representado nos níveis pré-silábico, silábico, silábico alfabético e alfabético.

Nesta análise a aprendente se encontra no nível de escrita alfabético (ortográfico). Sua leitura foi lenta, sem respeito aos sinais de pontuação e de entonação das sílabas tônicas das palavras. Observou-se dificuldades na coerência e coesão de textos mais complexos. Sua escrita foi de traçado gráfico legível de boa qualidade e às vezes oscilou no tamanho das letras. Todavia, a realiza com boa orientação no papel e não foram percebidas letras espelhadas, porém apresentou preensão inadequada ao pegar o lápis.

Na análise do raciocínio lógico matemático, a criança realizou as sequências numéricas com autonomia e as quatro operações com capacidade de abstração. Entretanto, indicou dificuldades na reversibilidade do pensamento ao relacionar com as situações vivenciais e conteúdos sistematizados.

Na Avaliação Psicomotora, a aprendente, obteve uma realização controlada e adequada, revelando um perfil psicomotor bom. Porém, com dificuldades em alguns fatores como: na tonicidade demonstrou má postura e pouca força muscular; na equilibração, apresentou desequilíbrios e quedas; e nas praxias global e fina, revelou dificuldades na coordenação e dissociação dos movimentos e na coordenação óculo manual e pedal. Além disso, demonstrou entraves em alguns subfatores, tais como: organização espacial, estrutura rítmica, agilidade e destreza dos movimentos micromotores.

Estes déficits psicomotores apresentados pela aprendente, justificam as queixas. A tonicidade e o equilíbrio, por exemplo, segundo Fonseca (2012, p.110 e 131), tem a função primordial de alerta, vigília e atenção; garantem também as atitudes, o controle postural, as mímicas e emoções, as quais a aprendente apresentou fraca realização. A organização espacial e a estruturação rítmica, as quais também apresentou limitações, estão diretamente ligadas ao desenvolvimento das percepções psicomotoras necessárias à leitura e escrita. E por último, os déficits nas praxias global e fina, que estão diretamente ligadas à programação, ao planejamento, à compreensão e à execução da escrita, os quais dependem também, de forma hierarquizada, de todos os outros fatores psicomotores.

Assim, no caso da aprendente L.L.S.S confirma-se as queixas familiar e escolar. Percebeu-se dificuldades de caráter pedagógico na construção da leitura e do raciocínio lógico matemático, quadro sugestivo de fragilidade nos estímulos psicomotores e ambientais. No aspecto psicomotor foi observado pobreza de estímulos nos fatores de tonicidade, equilíbrio, estruturação espaço/temporal, e coordenação motora global/fina. No aspecto cognitivo percebeu-se déficit de atenção.

 

Considerações Finais

É longo o caminho a percorrer quando é diagnosticada uma dificuldade de aprendizagem, as quais familiares e educadores se concentram em tratá-las e superá-las. Para isso, é preciso dedicação e empenho por parte de todos os envolvidos neste processo.

Nesse estudo, foi analisada uma criança plena de suas funções, alegre, mas com sintomas de déficit de atenção e lentidão na aprendizagem escolar, sinalizados pela escola e família.

A compreensão dos resultados obtidos no processo do diagnóstico foi de total relevância para direcionar os caminhos a serem percorridos no tratamento das dificuldades apresentadas e, consequentemente, para melhor formular objetivos e programar ações interventivas visando à superação.

Com o amparo das teorias da Psicomotricidade e da Psicopedagogia, pode-se formular hipóteses e estabelecer critérios que fundamentarão os dados encontrados. A Psicomotricidade permitiu compreender que os entraves observados na aprendizagem sistematizada podem ser amenizadas ou superadas no processo de intervenção.

Portanto, os aspectos aqui analisados são passíveis de serem contornados por meio de uma intervenção criteriosa, que busque as causas desencadeadoras ou determinantes das dificuldades da criança. E assim, cabe ao psicopedagogo escolher o caminho metodológico que melhor se adapte ao caso. Para tanto, o profissional de Psicopedagogia deve buscar conhecimentos e trabalho em parceria com profissionais da Psicomotricidade, adotar novas abordagens ao se dirigir ao aprendiz, sempre levando-o a acreditar que é capaz de superar os seus próprios obstáculos.

 

 

Referências

 

BOSSA, N. A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

 

FERNANDEZ, A. A inteligência aprisionada: abordagens psicopedagógicas clínicas da criança e sua família. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.

 

FERRERO, E.; TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.

 

FONSECA, V. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. Porto Alegre: Artemed, 2008.

 

__________. Manual de observação psicomotora: significação psiconeurológica dos fatores psicomotores. Rio de Janeiro: Wak, 2012.

 

GHIRINGHELLO, L.; BORGES, S. L. P. Interlocuções entre a clínica psicológica e a escola no psicodiagnóstico interventivo. São Paulo: Cortez, 2013.

 

GONÇALVES, F. Psicomotricidade e Educação Física. São Paulo: Cultural RBL Editora LTDA, 2012.

 

OLIVEIRA, G. C. Psicomotricidade: um estudo em escolares com dificuldades em leitura e escrita. 1992. [371]. Tese de doutorado – Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, 1992.

 

____________. Psicomotricidade educação e reeducação num enfoque psicopedagógico. 8ª. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.

 

PAÍN, S. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. 4ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

 

SAMPAIO, S. Manual prático do diagnóstico psicopedagógico clínico. 3ª ed. Rio de Janeiro: Wak, 2012.

 

VISCA, J. Clínica Psicopedagógica. Epistemologia Convergente. Porto Alegre, Artes Médicas, 1987.

 

­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­____________. O diagnóstico operatório na prática psicopedagógica. Buenos Aires: Ag.Serv,G., 1995.

 

WEISS, M. L. L. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. 14ª. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Lamparina, 2012.

 

[1] Graduada em Educação Física pela ESEFEGO/GO. Especialista em Administração Escolar pela Universidade Salgado de Oliveira. Especialista em Psicomotricidade pela Universidade Cândido Mendes. E-mail: [email protected]

[2] Graduada em Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia. Mestra em Educação – PUC/Goiás. E-mail: [email protected]

 

 

[3] Zona de Desenvolvimento Proximal é a distância entre o Nível de Desenvolvimento Real e o Nível de Desenvolvimento Potencial da criança, ou seja, a distância entre o que a criança já sabe e o que ela e capaz de aprender.

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